terça-feira, 14 de maio de 2013

não estou em festa, mas gostaria de coroar-me de flores

1

Todos os dias saio em busca de algo diferente,
Demandei-o há muito por todos os atalhos destes campos;
Além nos cumes frescos visito as sombras,
E as fontes; o espírito erra dos cimos para a planície,
Implorando sossego; tal como o animal ferido se refugia nas florestas,
Onde antes repousava pelo meio-dia à sua sombra, fora de perigo;
Mas o seu verde abrigo já lhe não dá novas forças,
O espinho cravado fá-lo gemer e tira-lhe o sono,
De nada servem o calor da luz nem a frescura da noite,
E em vão mergulha as feridas nas ondas da torrente.
E tal como é inútil à terra oferecer-lhe a agradável
Erva curativa e nenhum zéfiro consegue estancar o sangue que fermenta,
O mesmo me acontece, caríssimos! Assim parece, e não haverá ninguém
Que possa aliviar-me da tristeza do meu sonho?


2

De nada serve, ó deuses da morte, enquanto tiverdes
Em vosso poder, prisioneiro, o homem acossado pelo destino,
Enquanto de vosso furor, o tiverdes lançado na noite tenebrosa,
De nada serve então procurar-vos, suplicar-vos ou queixarmo-nos,
Ou viver pacientemente neste desterro de temor,
E escutar sorrindo o vosso canto sóbrio.
Se assim for, esquece a tua felicidade e dormita silenciosamente.
No entanto brota no teu peito uma réstea de esperança,
Tu ainda não podes, ó minha alma! Não podes ainda
Habituar-te e sonhas dentro de um sonho férreo!
Não estou em festa, mas gostaria de coroar-me de flores;
Não me encontro eu só? Mas algo apaziguador deve
Aproximar-se de mim vindo de longe e sou forçado a sorrir e a admirar-me
Por experimentar alegria no meio de tão grande sofrimento.


5

Desejo festejar, mas para quê? E cantar com outros,
Mas assim sozinho tudo o que é divino me falta.
É este o meu mal, sei-o, uma maldição paralisa-me
Os tendões e abate-me ao menor movimento,
E assim passo o dia insensível e mudo como os meninos,
Apenas me brotam dos olhos frias lágrimas,
E a verdura dos campos entristece-me e o canto dos pássaros
Porque na sua alegria são também mensageiros do céu,
Mas o sol que reanima cai frio e esterilmente
No meu peito convulso como se fossem raios nocturnos,
Ai! E inútil e vazio como paredes de uma prisão o céu
É um peso excessivo que paira sobre a minha cabeça!



Friedrich Hölderlin, de "Pranto de Ménon por Diotima", in: "Elegias", tradução de Maria Teresa Dias Furtado.

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