quinta-feira, 24 de outubro de 2013

tupã

que a névoa nutre lua já se sabia e há quem saiba que a arte de perceber anda, se não em desuso, perdida pelas calles del ayer. há também quem confunda lucidez com descrédito em algo, em tudo, num símbolo. descrédito em si.

meus amigos não. meus amigos sabem ler sinais.
meus amigos estão bêbados de tanto interpretar.
alguns se perdem, outros saúdam.
que os encantos e os órgãos do que vive os ajudem.

de manhã uma pura espécie de profissionais, os arqueólogos que são biólogos e pescadores que devolvem peixes ao mar, estavam desmontando o aqueduto sobre o nosso chão, e mostravam as tubulações pra quem quisesse ver. avisaram que o trígono das raízes e das algas, quero dizer, os profissionais mostravam o lodo entranhado numas raízes do pântano, e aquilo borbulhava; e na borbulhação ficou clara a emissão: era para as algas esponjosas que vivem do sal da beira do mar. o que se dizia? não era bem um dizer, era como se não houvesse dúvida, elas respondiam. e assim se agitavam as raízes e as algas, úmidas como a nossa carne, quem olhasse percebia a comunicação em festejo, já que esse diálogo, que na verdade era muitos, esses diálogos formavam um triângulo onde no centro que não havia; onde no centro que não há estava você, e estava eu.

a água era verdade.

e eu que de manhã tentei pensar a respeito
vivi só de que é mais simples:
beber, banhar. aquecer, arrefecer. amolecer, formar
a forma do ser que envolve é
o que é.

evoé, saturno.
a benção, sol.

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

fronteira

sonhei e me lembrei! há quanto tempo. estava num aeroporto e meu visto estava vencido, mas eu chegava no meu próprio país e o visto estava vencido pra entrar no meu próprio país. a entrada do brasil era uma catraca, tinham catracas pra atravessar, e me pediam documentos que eu não encontrava, acabava encontrando, estava tudo vencido, mas dava tudo certo e me deixavam entrar, então eu via pelos vidros do aeroporto que estava uma grande tempestade (que eu não temia). já na rua encontava a maria, que tinha um lugar para nos hospedar. ela estava acompanhada, mas estava sozinha. andávamos por viadutos e estava na capital do meu país e pensava "no chão da capital do meu país" e me deu uma emoção, uma vontade de chorar, e então a gente andava mais e aquelas ruas todas de prédios novos não me pareciam com brasília e eu ficava em dúvida se não estava, sei lá, em araraquara, ou qualquer outra coisa assim. pensava "isto aqui não é brasília... ainda bem?".

domingo, 6 de outubro de 2013

La sombra de una flor movida por el viento:
eso eres tú, cuando el sol resplandece.
La sombra de una flor movida por el viento:
eso soy yo, cuando las nubes pasan.




Chantal Maillard, de Hainuwele.

oração noturna

Perdi a cruz e o cavalo que me atrelavam o pescoço
havia os guardado no bolso
mas, de caminho próprio
como tudo o que existe,
meus protetores prateados desapareceram
para ir viver, eu sei, numa outra espécie
de lodo, rascunho, ou pé de armário
cheios de pó, tragados sejam
pela escuridão. 
 

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