quarta-feira, 28 de abril de 2010

II


Desde os dezesseis anos estou neste estacionamento.
Viagens, lustres, dinheiro: nada: se fecho os olhos o que vejo são vagas.

Não me balizaram. Fui eu mesma
vim viver aqui, não acredito mais, neste ângulo entre paredes.

Esperava deste parque aquele por quem a vida corria.
Ir com ele. Como um cometa,
uma pedra que me arrastava do centro, toda lançada,
natural como as baratas que sobrevivem desde os dinossauros.

Um arco e duas flechas. Sismo veio
todo o mundo do juízo, todo o meu poder de confissão.
Encontros de concreto, folhas de eucalipto caindo, putrefação.

Do que restou interessa a voracidade da alegria
um falar mais honesto emergirá na superfície
a pérola homem que cresce por dentro das ostras, das minhas coxas
transtorna o cotidiano
que vivia feito um pombo preso no túnel e depois alcançou a plataforma do metrô.

Mas os pombos não migram e prendem nas patas as linhas das pipas.
Do emaranhado solto o medo no meio e desfaço a tua relíquia.
Não é a primeira vez que lanço um pássaro sobre ti.

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