NEGRO REAL
Só a noite deves deixar falar diante dos olhos:
só a folha que ouve onde ainda há vento;
só a voz na gaiola do pássaro.
Só elas, elas e nada mais.
Mas a ti mesmo dá um pontapé e diz: sê corajoso,
sê digno da pedra sobre ti,
não quebres a amizade com a barba dos mortos,
junta a flor ao verme,
iça a tua vela sobre caixões,
traz para bordo os escaravelhos das campinas mais baixas,
dá a notícia aos obscuros.
Dá-lhes a dupla notícia:
de ti e de ti,
de ambos os pratos da balança,
da escuridão que quer entrar,
da escuridão que deixa entrar.
Dá a notícia aos escaravelhos,
dá a notícia aos obscuros,
junta flor ao verme,
iça a tua vela sobre caixões,
deita o teu coração à cabeceira.
Paul Celan, em tradução de João Barrento, de "A morte é uma flor".
sexta-feira, 26 de outubro de 2012
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário