só pudemos saber aqui, que uma das coisas que viemos fazer nesta ilha foi conhecer e tratar do cãozinho aí. Coragem, seu nome é o que ele possui.
a mãe desses filhotes morreu uns dias após o parto, e a pele deles era tão fina, e o trópico tão intenso, que eles foram atacados por bicheiras, vermes comedores de carnes vivas.
quando aqui chegamos, disso eles já estavam curados. mas dois deles tinham desenvolvido processos de inflamação a partir dos parasitas que, vejo eu, são uns nojentos.
o cachorro mais debilitado de todos foi o Coragem, que frágil desde o início, anunciado como prestes a morrer foi inúmeras vezes. já ao nascer o Escuro, que trabalha onde estamos, disse que o único macho da ninhada não ia durar mais que poucos dias. Escuro é o sábio de toda ilha, mas até os sábios se enganam. ainda bem.
o cotovelo esquerdo do pequeno inchou de ele não conseguir fazer nada a não ser estar deitado. durante três dias e três noites Coragem ganiu e latiu e rosnou o tempo todo. não comia nada que não fosse lhe dado numa seringa, e como estamos na Bahia, passou alguns dias à base de água de coco. evoé! os frutos e os líquidos.
na mais crítica das noites, dormindo ao pé de mim, depois de ter uma convulsão pela alta febre, a respiração dele chegou a se dar só de cinco em cinco segundos. eu mesma disse "é hoje, ele vai morrer". tive certeza. confesso que até fiz coisa que não se faz, torci pela morte, pois o pequeno cão estava roxo e sofria tanto, tanto...
mas não, amanheceu e Coragem estava vivo, e pedindo por comida. nosso Coragem fintou a morte mil e duas vezes e com a grande imensa suntuosa magnífica e maravilhosa ajuda dos antibióticos que a espécie humana inventou (ou descobriu?) para estarem do nosso lado, o pequenino começou a desinchar. hoje, pela primeira vez, Coragem andou nas quatro patas e abanou o rabinho. ainda está um terço menor do que suas irmãs, mas já sei o que ele me ensinou: todo dia é dia de viver.
vamos lá, Coragem!
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