a primeira coisa que eu quis de um poema
foi que ele falasse da dor que eu sentia
e o poema me ensinou a desaparecer
a segunda coisa que eu quis de um poema
foi que ele me ensinasse a caber nas situações
e ele me ensinou ventura e quebranto
a terceira coisa que eu quis do poema
foi que ele me levasse pelo braço
mas ele só tinha cauda e tempo pra outras coisas
ele só tinha tempo para outras coisas e eu estava tão cansada
de estar disposta à todas as coisas que parecia a chegada
do estado reverso — o temporário estar naquele lugar
sobre o qual falamos à noite — que escuridão
é tanta coisa que a gente vai vendo que vai se fascinando com elas
e pra mim é muito importante esse lugar de não dizer as coisas muito corretamente
porque se eu perco esse lugar se é só o lado já burilado do acontecido
um poema concebido como diz o meu amigo
tem tanto burilado antes do não-planejado
porque nascemos no claro morremos no escuro vivemos no claro e no escuro
é uma reciprocidade danada a que não se dá
e o medo que a gente tem de ficar mais um tempo num determinado lugar
ou o medo que é preciso que a gente tenha pra se aceitar um pouco adiante
do que estamos — e a falta de sentido que é preciso fazer se jogar pra dentro dela
pra poder entender alguma coisa, vivenciar algum sentido inúmero
é o meio o meio o privilégio — de ter uma coisa após a outra após o tudo
que é mesmo um meio de antes do depois. isso. nada.
sexta-feira, 30 de junho de 2017
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