tem me acontecido o que vi acontecer 
escrever cada vez menos  
até me esqueci que poderia — e deveria, quiçá, até —
recorrer a esse blogue meu primeiro finalmente terminal 
local de exercício vital 
aqui eu posso respirar como se ninguém 
estivesse vendo 
posso driblar o verso posso aquecer meus dedos 
na digitação sinuosa 
tremiliquenta 
quem sabe depois de uma duas ou três 
quatro cinco frases demoradamente 
tentadas um verso apareça 
num tentáculo me afague e esmagando 
a jugular para cima da clavícula 
arranque um tanto esse sufoco 
serviremos ao jantar um arenque ao molho de silêncio 
como sempre tenho pensado em pessoas mortas 
o espelho é um latifúndio de dúvidas 
voltei a procurar alguém com quem não falo
hoje faz anos a primeira amiga com quem rompi 
sinto saudades 
não daqueles com quem rompi 
— do rompimento talvez a única memória que me falte é a do útero — 
falta mesmo de escrever daquele modo que sei 
está acontecendo está perdidamente certo
fazê-lo 
estou desconfigurada como quem tivesse acelerado 
até outra galáxia e lá chegada 
não era uma galáxia 
mas algo antes da galáxia 
mesmo isto, mesmo aqui 
onde só fui livre e intranquila
conforme desejasse 
ou mesmo simulasse 
talvez até recriasse 
tenho mais dúvidas que opiniões 
nunca estive tão próxima da verdade
eu nunca te disse, mas agora saiba 
a verdade nunca permanece 
assim como as galáxias 
as canções e as palavras
quarta-feira, 16 de maio de 2018
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