quarta-feira, 16 de maio de 2018

tem me acontecido o que vi acontecer
escrever cada vez menos 
até me esqueci que poderia — e deveria, quiçá, até —
recorrer a esse blogue meu primeiro finalmente terminal
local de exercício vital
aqui eu posso respirar como se ninguém
estivesse vendo
posso driblar o verso posso aquecer meus dedos
na digitação sinuosa
tremiliquenta

quem sabe depois de uma duas ou três
quatro cinco frases demoradamente
tentadas um verso apareça
num tentáculo me afague e esmagando
a jugular para cima da clavícula
arranque um tanto esse sufoco
serviremos ao jantar um arenque ao molho de silêncio

como sempre tenho pensado em pessoas mortas
o espelho é um latifúndio de dúvidas
voltei a procurar alguém com quem não falo
hoje faz anos a primeira amiga com quem rompi

sinto saudades
não daqueles com quem rompi
— do rompimento talvez a única memória que me falte é a do útero —
falta mesmo de escrever daquele modo que sei
está acontecendo está perdidamente certo
fazê-lo

estou desconfigurada como quem tivesse acelerado
até outra galáxia e lá chegada
não era uma galáxia
mas algo antes da galáxia

mesmo isto, mesmo aqui
onde só fui livre e intranquila
conforme desejasse
ou mesmo simulasse
talvez até recriasse

tenho mais dúvidas que opiniões
nunca estive tão próxima da verdade
eu nunca te disse, mas agora saiba
a verdade nunca permanece
assim como as galáxias
as canções e as palavras


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