Queria escrever com ódio o teu desaparecimento
 erguer fúrias e avanços como fazem
 a lava, os tsunamis e os delirantes.
 No entanto mandei outro e-mail 
 falando do vermelho dos pássaros do Índico 
 como no jazz o drible da constância é a própria duração
 de umas gotas de chuva na nuca
 região fadada à incorporação de entidades 
 às tensões musculares, aos arrepios
 à necessidade da cabeça se curvar 
 coisas talvez que te lembrem na vida
 do que gostas é tudo movimento
 e é importante que tu não desapareças de vez.
 Ter um anzol, um ponto de regresso, farol
 esquecer que, no fundo, os suicidas têm sempre razão.
 Quando você foi visto há 150 quilômetros de casa
 rumo à Moldávia, Botswana, Brasil 
 ou qualquer um desses lugares que só existem nas aventuras
 dos teus livros lidos desde menino 
 percorrendo a eletricidade do teu corpo 
 — disseram os que te viram —
 cacos de vidro, arames retorcidos no lugar das ideias
 uma grande incapacidade de ser insensível
 somada ao egoísmo que todos temos
 que tornou argamassa o horizonte?
 Antolhos é o nome do acessório de tapar a visão 
 dos animais a carregar fardos maiores do que eles. 
 Ou qualquer coisa assim na tua face
 os 150 corpos mutilados
 mortos estampados nas capas dos jornais
 eu espero que você não tenha visto
 no longo caminho pra longe de si
 as notícias dos últimos dias.
quarta-feira, 16 de maio de 2018
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