sábado, 25 de dezembro de 2010

natal

eu hoje fiz rabanadas até a casa feder a óleo e eu mesma ser incapaz de pensar nelas, em comê-las. mesmo assim as comi, é Natal - e entre outras coisas, sobretudo é pra isso que estamos vivos.

é vagaroso viver, astronauta. nem sabes das coisas que passam e estão aqui na terra.

eu sei que vês, mas não - . - sei que nossa relação tem limites, mas por favor, me arranca dessa tela luminosa.

metade do que eu conheço está além de mim.
tem certas coisas que eu já não quero mais acreditar/duvidar entender-esquecer. ou mais: pontos pacifícos de estar. um deles é o Natal. não quero nem gostar nem não gostar, mas tem o estar e ele é comunidade com os homens.

todos estão nisso, até os que querem que não. eu agora vivo em Lisboa num dos lugares mais turísticos da cidade e posso vê-los transitando da minha janela. pixaram no muro do miradouro em frente

TURISTS ARE TERRORISTS - assim com o erro mesmo.

eu não diria isso, mas acho engraçado de como é violento com os tapados. em geral os turistas tão meio assustados em OWHHH HOW WONDERFULL e tal. eu gosto dessa ingenuidade, inclusive eu gosto de algumas outras ingenuidades também.

vejo assim, hoje vi, chineses, alemães, brasileiros, um espanhol viajando sozinho. não que eu tenha falado com eles, mas começas a aprender a reconhecer as nacionalidades pelas roupas e jeitos do corpo, e - claro, as etnias em alguns casos facilitam. todos estavam vivendo a véspera de Natal como a véspera de Natal. era possível perceber isso, não é um dia qualquer.

e não ser um dia qualquer não significa muito mais. é o belíssimo solstício de inverno, os dias agora voltarão, para o lado de cá, a ficarem mais longos, pouco a pouco. e ainda bem. mas mesmo, pra além disso. a carol disse hoje: a gente nasce sozinho e morre sozinho, mas a gente vive junto.

às vezes sair da 'comunidade' é o lance de dados que atrasa. a professora disse uma vez: "se eu digo: 'está a chover' e depois completo, 'mas não sei o que chuva significa', é quando eu me retiro da comunidade, do estar junto.

isso me aconteceu, acontece, tantas vezes. das palavras todas ficarem gastas e pra isso eu deixo de acreditar nelas. talvez por isso eu goste de ano-novo, aniversário, natal. porque a gente está junto, e ainda bem. fritura porque nos quero.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Ê VIDA BICHO ENORME QUE É
dos cantos de estima para o poemas do destino do mar
é impressionante como eu perdi o heroísmo.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

não quero amor com guerreiro 
pra o fogo não me queimar
quero amor com marinheiro
que anda nas ondas do mar

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

hoje

there are some mornings
when the sky looks like a road
there are some dragons who
were built to have and hold
Joanna Newson
Acalma teu brio de fugir, mulher
havia algo com que me deparar
vinha desde a noite do nome que dei
a algo que sabia tão bem pequena
e que até ontem não sabia que sabia bem assim
alguma coisa com nome de amor
uma luz que às vezes ilumina minhas mãos
e há nitidez nas ranhuras das digitais
e sinto uma ternura imensa
pelo passado pelo futuro
tantas vezes é de noite
e me acompanha pensar
na morte como uma insônia
madrugada passada acordei berrando porque
pedia pesadelo pra amiga grita
grita pra nos salvar
ela não gritou
ao que eu gritei
levantei a cabeça
olhei as montanhas das minhas clarezas antes de dormir
e escrevi logo ao acordar:
esqueci
e fiquei olhando as montanhas e as estrelas pra ver se
elas se mexiam.

- -
dos meus cantos de estima, fofignos.

- -

na cozinha, agora pouco, disse: "como diz aquele verso da ana cristina césar: acalma teu brio de fugir, mulher" e então percebi que o verso não era dela.
já tomei banho. a luz já voltou. vou comer os restos do jantar de ontem. que são praticamente um novo universo. faz hoje céu azul violento de generosidade. coisa de 7 graus. com o vento, 4. o Tejo é mais escuro que o céu. uma letra de espaço que faltar vai fazer toda a diferença na compreensão. é por isso que eu digito tão rápido, pra ver se certas letras caem, são plumas, desnecessárias, ou o meu edredon, cheio delas, quentíssimo. hoje à noite temos concerto de lançamento da cátia. é tanta coisa a gerbera rosa que o b trouxe juntou com as amarelas flores sem nome que comprei no domingo.
temos também uma planta que é o david bowie

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

solução

eu ainda
encontro na mesma cor
que é vida de vermelho de terra em rosa
e quando os olhos, meus, fecho: estou
na caverna mais encantada que desde criança
perco encontro, acho sou.


- - -

domingo, 12 de dezembro de 2010

c

hoje, passeando de tarde, encontrei uma página, digo 30 arquivos do meu computador do romance que eu escrevia em 2007. pensei que talvez fosse legal terminá-lo. cada arquivo que abro tem uma versão completamente diferente (pelo menos de início) que a anterior. eu decididamente não sabia o que fazer, nem o que estava fazendo, e a cada momento levava a massinha pra uma massa posterior. 

(na escola eu brincava de massinha e nenhuma forma que eu queria fazer tomava forma porque no meio do caminho outra forma me parecia melhor: olha, aqui vou fazer uma casinha, não, não! como parece uma salsicha, salsicha é tão sem graça qualquer um faz, vou... cachorro! - - e tudo continuava massa informe - - a mesma coisa com os desenhos, sem contar o horror que as formas literalmente materiais, as chamadas plásticas -errôneamente? se os textos é que são sim, de plástico -, sofrem em si mesmas as marcas dos erros, muitas vezes sem corretivos possíveis. 

ou o que o computador trouxe para nós ou o que ou o que)

quando eu estava escrevendo o "antonio e asaboli" o grande acontecimento, pelo visto, era o "ou o que" e também o orgulho. por quê? porque oras, eu tinha 60 páginas de um texto que era absurdamente nada e tudo ao mesmo tempo e eu não começava nada eu era o exercício eu era o texto eu ia lá abandoná-lo? - foi o que fiz. ficaram pra lá, ficaram com suas pontas pra todos os lados e sem pontas de vez afiadas.


#

mudando de assunto pro seu oposto:
toda vez que eu termino alguma coisa na qual me dediquei por algum tempo depois sou eu o caos sacudido, a luz que incidiu nas coisas até delirá-las, um caleidoscópio partido, uma imaginação toda do universo à solta dentro de mim e eu acuada acuada acuada pensando em nada em nada em nada.

#

2010 foi um ano ótimo.
se consideraramos roberto carlos "se chorei ou se sorri/ o importante é que emoções eu vivi" e que foi um depois de 2009 e outro antes de 2011 e que eu morria de curiosidade pra saber o que ele seria e como viria e foi acontecendo tão por ele mesmo, o ano, as coisas, e eu fui indo nele, me recusando, trançando os pés de saliva, também chamada chuva, também chamada casco, sobretudo riso.

sábado, 11 de dezembro de 2010

"a verdade é que passei a vida a fugir, de cidade em
cidade, com um sussurro cortante nos lábios.
e atravessei cidade e ruas sem nome, estradas, pon-
tes que ligam uma treva a outra treva.
caminho como sempre caminhei, dentro de mim -
rasgando paisagens, sulcando mares, devorando imagens."

al berto, de abertura do romance que eu nunca terminei e cuja epígrafe, noto, não tinha nada haver com ele.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

b

depois do belo novembro em chamas nada melhor do que um dezembro de musgo

um bicho de protótipo um bicho de protesto um bicho que não terminei

a

atravessei uns dias esquivos e se escrevo é só porque me quero de volta. como uma cidade da infância (pavarosamente perdida, dizem), atravesso colinas e travesseiros. sou voltada pro dentro. no centro do meu peito tem uma chapa a que antes chamavam de externo, se não tivesse virado uma montanha de dentro. um oblíquo movimento do coração, digo, de uma inquietação. tem algo que é o bicho amansado nisso. o bicho amansado sente falta de nadar rio. riso que alucina, entrega com atraso disparatadamente entregue. balanço, baloiço, bolsinhas e alfacinhas. tudo isso trago no corpo. um dia ainda dou em ruína.

#
dei nisso!

#

engraçado que é, a pessoa ter vindo pra portugal estudar um mestrado em edição de texto que não se consolidou, porque queria mesmo era aprender a fazer livros e não comércio (ou o comércio que vem depois) e de repente a pessoa desiste vai estudar teoria (& seus pares históricos) (& seus amigos já são pares históricos) e se vê fazendo, de repente, livrinhos.
ainda que haja tempo - ainda. que a vida se recolha toda nela. mesmo que 2010 não me
recordo mais.

acordo de amanhã cedo é manhã do meu vício. no sonho eu dizia terrivelmente terrivelmente que esse lugar é terrível é terrível o mofo. as coisas que a gente escolhe tem de

de fazer
de morrer
de esquecer
de assinar
de limpar
de

mim, pra você, dizendo: recolhe
o varal;
me dá saúde
cuida dos nós.

hoje foi o primeiro dia em muitos: me esforcei e consegui fazer nele inteiro: nada.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

I

pelo lado norte vem o cortante vento do mar
o dia acaba de se agasalhar no musgo das acácias
fico imóvel
atento ao estalar nocturno das madeiras

a roupa foi deixada em cima da cadeira
cobre-se de penumbras... a casa treme
com a explosão da pedreira

viro-me para a terra alegre dos sonhos
invento uma lua invento um inverno só pra mim

donde chegarão aqueles barcos de sobressalto?

um dedo arde na poeira das vidraças
uma planta corrói o silêncio dos corredores
debruço-me para a velha mesa encerada
uma aranha arrasta-se sobre a folha de papel
espeto-lhe o aparo... escrevo
a crueldade das palavras que te cantam

tento acender outras imagens devoradas pelo tempo
mas estou confuso e definitivamente só

de que lado da casa rebentará o novo dia?
em que arrecadação escura sossegará o amor?

resta-me escancarar a porta da casa
e sorrir a todos os desconhecidos

[al berto, do "eras novo ainda"]
 

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