terça-feira, 28 de julho de 2015

no tic tic tac

entre os acontecimentos desta semana realmente agora pouco me aproximei de um animal que se debatia contra uma grande janela de vidro. minha mãe é que me mostrou, e eu achando que era uma mariposa, a minha curiosidade se enterneceu ao perceber que se tratava de um beija-flor.

me aproximei calmamente dando a ele entender a minha natureza ou a natureza da minha aproximação. suave ele me olhou de volta sem agitar as asas, sem nunca pensar em me esconder ou mostrar qualquer coisa, ele estava ali e eu estou aqui. sou destra e fui abrindo a palma da única que o alcançava, minha mão esquerda me aproximando lentamente do bichinho voador. quando fechei a mão o beija-flor se encaixou, ficou, me olhou com a simpatia de um cão. e tão veloz seu pequeno ser coração era uma bateria batendo entre os meus dígitos. que alegria pacífica.
 
saí pra varanda, o mostrei pro gustavo, olhei suas penas pretas mescladas de azul e verde fosforescentes seu bico preto pintadinho, seus olhos pequeninos
cheios de confiança
abri a palma da minha mão e imediatamente o beija-flor voou. livre.

sábado, 25 de julho de 2015

e-mail para m.

owwwwww a merda rolou em cima de mim, depois passou um rolo compressor de cocô, seguidos de baldes de bosta & então eu me vi como o nosso belíssimo saturno manda nessas situações: LIMPÍSSIMA de luz translúcida.

sério, essa semana foi punk. caí no balde em que o aquiles é colocado pra ficar protegido mas acho que o resultado foi o contrário, fiquei com a cabeça pra cima. e como tá desde o começo de julho assim, eu tô baixando as orelhas pra ver se não vem aí um helicóptero e corta com suas hélices o topo da minha cabeça.

mas tipo saio pra por o lixo e o vento venta & que alegria é o vento! estou viva! eu amo o vento! meu deus! que lindo vento! que lindo vento que me empena as costas! minhas costas só podem estar empenadas porque estou viva!

e o milton aqui cantando: "que tragédia é essa que cai sobre todos nós?".

e hoje fui ver a xxx no ateliê dela e ela quase morreu ontem à noite num acidente de carro. quer dizer, o carro deu perda total e ela e o namorado não sofreram nenhum arranhão.

em outros tempos diríamos que os deuses estão furiosos. hoje não sei o que dizemos.

mas eu sei que escrevi um livro que só fala da porra da morte e daí tô dizendo "acabei" minha vó morre nas minhas mãos. é claro que não vou publicar esse livro antes de escrever um poema sobre isso. falta um poema. que pode demorar meses, anos. mas é isso. isso é um livro, isso é a poesia e é isso, viver a vida.

sexta-feira, 24 de julho de 2015

julho

dia desses reli no meu caderno / agenda que sempre tenho comigo há anos e onde escrevo sempre que as mãos tenham o ritmo da tinta da minha caneta que curiosamente a.m.m. e m.c. usam igual / galopes que estouram: estava lá escrito:

1.7

julho será um longo mês. o primeiro julho em oito anos em são paulo. o primeiro inverno em são paulo em tanto tempo.


não sabia que seria tão longo esse julho.
quando eu era criança tinha muitas dores de ouvido em julho.
e muitas vezes o que me curava era muito chá de camomila.

desde que julho começou tomei litros de chá de camomila pra ver se melhorava. e foi o último chá que minha vó bebeu e fui eu que fiz pra ela. devia ter feito erva-doce, que ela sempre me dava quando eu era criança e eu não gostava muito, mas aprendi que era um gosto bonito de se sentir porque era o que minha avó me dava. agora já não posso ver camomila que eu choro.

não deixei do que sempre associei camomila à claridade dos dias de verão. era isso que a camomila me trazia dentro do corpo quando eu era criança: a tranquilidade de uma brisa leve num dia quente.

lembro de uma trilha no Gerês, noutro julho, onde era verão, que subimos uma montanha gigantesca, infindável, antiquíssima. e quando chegamos lá no topo não existiam grandes promessas conquistadas além do corpo tomado pelo oxigênio dos músculos, e a delicadeza portentosa de um imenso campo de camomilas que tomavam o sol e a chuva primeiro do que todos que estavam lá embaixo.

lá no sol me deitei. e adormeci.
talvez tenha ido embora um resto de saliva que eu não sabia que tinha ficado no canto da boca e o guardanapo levou; ou talvez tenha sido algo mais sério, como o dente que mora no terceiro olho da gente. de todo modo caí numa encruzilhada com todos os meus dentes. veio uma luminosidade tão grande que quase me cegou. outros na frente do que eu vi talvez vissem a destruição, que eu também vi, mas a fineza da vibração da diferença entre o que ainda se realiza e aquilo que não se realizará lembrou-me o quanto o desconhecido é uma imensidão de energia. e estou tanto noutro lugar que tenho receio de que as pessoas também não consigam mais me ver. a não ser aqueles que se solidarizam. a profundidade. há também os que desaparecem. uma coisa que eu pensei essa semana foi: de que adianta matar deus se é pra ficar assim depois angustiado quando a morte acontece? me deu vontade de dizer isso na cara de uma pessoa. mas uma vontade muito pequena como são as vontades agora. há mais necessidades: entender o clarão no sentido de não recusá-lo & afinar os passos dessa reentrada. cuidado mais que nunca com os abismos que eles são ralos com dragas de duzentas vezes mais força. e um espaço entre meio espaço e entre meio espaço e um e meio espaço aberto aberto aberto. porém o desabamento não sei se já acabou ou se a cada réplica do sismo ele vai destroçar mais duzentas coisas. a sensação de que minhas mãos estão sujas desapareceu com o passar de duzentas vezes sabão, mas o receio de esperar alguém que está no banheiro, não. não posso ver camomila que eu choro. e quando olho pra trás observo esse texto e a sensação é de que já andei duzentos quilômetros a mais no meu fôlego do que realmente andei. realmente, o realmente, a minha compreensão do que quer dizer e do que é o realmente mudou completamente em muitos poucos dias. e estou pisando em ovos. se eu acelerar todos eles quebram e o terremoto ainda não parou. it means: urano. um golpe de espadachim e furo dez olhos, mas estou desarmada, e o vento é capaz de me fazer chorar pois estou viva. e neste lado ainda: lutando por isto.

sábado, 18 de julho de 2015

sonhei que estava numa colônia de férias
e meu nariz começava a jorrar sangue
me levavam pro médico que fazia atestado pra usar a piscina
eu ficava em dúvida se aquilo iria funcionar
até ver o médico
um chinês muito velho
com uma barba muito comprida
daquelas que afinam na ponta.
e em cima da mesa dele um tigre de porcelana
do tamanho de um pórtico, gigantesco.

daí o doutor me dizia:
—presta bem atenção que vou te dar a receita da cura.
e eu:
—tá bom, a cura? se o senhor puder anota também.
—anotar só em chinês, tá?
—tá...
e ele:
—a receita da cura é muito difícil: presta atenção:
tem que sentar e ficar ouvindo música sem fazer mais nada.

e me deu um papel cheio de ideogramas.

quarta-feira, 15 de julho de 2015

escrevi como se o inconsciente tivesse virado um passarinho que vinha vindo, vinha vindo comer na minha na mão & a minha mão era uma fonte de água no sol das 4.

*

a primeira coisa que me atropelou semana passada fui eu mesma, depois uma encruzilhada de bactérias & aí vieram as drogas fortes: os antibióticos & aí entraram pra luta uns vírus respiratórios. então eu tive que entender quem estava ao meu lado e quem é que não estava ao lado daqueles a que podemos chamar de "quem" naquela luta, & então a memória veio à tona escavocou esburacou & cada noite era um emaranhado diferente do que já foi & e quanta escuridão há num corpo doente & quando lá do outro lado eu vi aquilo que destrói & convoquei as plantas! que só podiam vir por fora, que por dentro era a terra do sintético mas vez ou outra elas assobiavam com o vento & isso também é correr atrás do vento & tive medo como se estivesse numa poça d'água amansada se agitando & eram muito a mesma coisa & eu tive um impulso de um telefonema & então eu encontrei uma medicina & então eu pude voltar & eu assim eu vim com a minha sorte. e a felicidade foi tão grande que tive de conter o entusiasmo, porque ando aprendendo que às vezes com a sua velocidade alucinante porque eu o amo ele vem e me toma & me ama & depois me derruba na cama.

quinta-feira, 9 de julho de 2015

Idola Fori

Eu sei diversas coisas
saber é afinal a minha única preocupação
Sei pouco de manhãs
mas talvez possam dizer de mim que amei o mar
e cada árvore que me viu passar
e insistir na vida como uma canção em voga
Quem mais que eu
quem foi esqueceu?
Estamos malfeitos pronto
Para quê a doçura no olhar
de uma mulher certos dias?
O morno calor do sol rasante pelas tardes
de setembro na senhora da guia
senti-lo em abril numa sala voltada ao poente
de súbito sabendo de todos os papéis
ou outra eternidade que não essa
Talvez ouvir egmont sentindo-me importante de repente
ou então conversar sobre o poeta à beira de água
chegar a mangualde ao pôr do sol
ou a duas igrejas na semana santa
ouvir os sinos na matriz vizinha
cheirar madeira nova nas gavetas
fechar a porta sobre todos os cuidados
cantar a triunfante juventude
Não mais andar perdido de ano em ano
Não mais a morte questão para ociosos
à tarde no café dos reformados
Oh quem dera ser católico
ou pelo menos morar alguma vez
em lisboa ou nos arredores de lisboa
Não há remédio nenhum
esqueci-me de tanta coisa
Sei que isto não é grande coisa
mas nenhuma outra coisa me é dada
O que é preciso é que não doa muito
Depois que me escondam na terra como uma vergonha


- - -

Ruy Belo

quarta-feira, 8 de julho de 2015

urano |_ sol

a vida é isso: você vinha correndo desenfreadamente daí reparou que era preciso lutar contra o ritmo dessa cidade um pouco então: intervalar os encontros os trabalhos. passaram as maiores responsabilidades e antes delas acabarem no meio do furacão você teve uma gripe tão horrorosa que um arco-íris seria pouco pra contar as cores que te saíram do meio do nariz. no meio disso uma experiência mística em uma religião que não tem nada a ver com você. sonhos que enterrariam um avô já morto.

então você melhora quando volta pra casa, você já está em casa. outra maratona de dias. passada ela você pensa assim: vou fazer aquilo que eu mais quero: terminar meu livro. escreve-se desenfreadamente. chega na hora de dormir você não dorme você tem a bexiga cheia. daí escreve-se desenfreadamente e você pensa "também vou aproveitar pra descansar, eu vou voltar (sem voltar atrás) e vou repensar todo o ritmo da minha respiração." então você não se sente doente você se sente feliz as pessoas ao teu redor todas brilham são teus melhores amigos desde outras duzentas gerações. nisso tua melhor amiga te ensina que aprendeu que a palavra "obrigado" significa o que tem dentro de todo "ob" manter nesta circunferência. "observar", p. ex., "manter em observação"; "obrigado": "manter em estado de graça". você pensa: nada me interessa mais do que manter algo em estado de graça: estou obrigada.

você precisou interromper um processo muito intenso devido a grande intensidade do estado de graça místico que é viver. sentiu-se furiosamente triste e furiosamente feliz. sou cinquenta sou cento e cincoenta etc. todos os gatos te sorriem e você pensa assim: "taí, tem um cachorro sempre me acompanhando". mas ele não está lá. então você embarca furiosamente numa espécie de transe da lucidez até que você não aguenta mais entender tudo tão rapidamente e fecha a porta e conhece a morte então você abre a porta e por ela entram todos os seus vícios. minha amiga que é xamã me disse isso uma vez: você abre a porta pra um vício, entram todos. não, não vou te contar quais são meus vícios.

a sensibilidade? um dos treinos, um treino nunca é um vício. me impressionou muito no documentário da nina simone ela dizer que nunca pensou a vida em termos de escolha. isso parte teu coração assim como quando você consegue começar a dizer tudo na primeira pessoa. na primeira pessoa do singular, outro treino. mas você não consegue. ainda bem. imagine ter o coração partido a cada minuto. você não consegue parar embora você saiba que você precisa porque afinal essa velocidade toda é só uma impressão de ótica, um olhar uraniano sobre a realidade. você sabe que urano em áries na tua vida é como se o primo do interior viesse de botas sujas de bosta de vaca cheias de capins novíssimos pisados e sempre capazes de germinar uma faísca de germinar um incêndio de novidade. e esse teu primo coloca os pés em cima da mesa, da tua mesa de trabalho, aquele seu trabalho de sempre passo a passo está lá com seu primo do interior dançando feito o fred astaire dançaria o "on the corner" do miles davis.

esse teu primo vai se hospedar por aqui coisa de um ano e meio. ele acabou de chegar. "eu preciso descansar pra que esse primo não me derrube", você pensa, então você para de pensar por que o que é pensar? ah! você faz, afinal, você "nasceu" pra fazer. e você faz as coisas com um cão de um lado, um cão ateu, e do outro lado esse primo puxa teu cabelo porque quer brincar de cavalinho com você. ele já está saltando nas suas costas. pensando bem você até gosta. pensando bem eu até gosto. então você se anima com tudo e sente a necessidade de pular na jugular do primeiro que aparecer e dizer NEM VEM mas você sempre gostou de dizer NU VEM. então você pensa eu vou dormir porque eu finalmente posso eu vou acabar o meu livro porque finalmente é preciso e faço. e faço. e faço.

então você não consegue dormir de tanta dor no rim esquerdo, rola pra um lado, rola pro outro, a cabeça dispara então você se levanta, coloca um livro na mochila, pede um taxi por um aplicativo e vai às 4h da manhã pro hospital com dor no rim esquerdo. você vai sozinha, você só avisa alguém de que está lá às 8h da manhã, você passa 5 horas no hospital mas não vai acordar ninguém, afinal você nem pensa nisso, só repara depois voltando pra casa, você cresceu e está doendo mas também não é pra tanto, marte nem chegou ainda, ele só vem no fim do mês. depois de cinco horas detectam uma infecção mas te dizem que é na bexiga só, que o rim foi um devaneio, uma ansiedade, uma paranóia.

então você se pergunta por que você sempre sente os sintomas? os sintomas de tudo, os sintomas do mundo: antes? deve ser por isso o constante aviso: quando a água se agita demais no profundo, minha filha não se segura: terremoto: aprende a voar. e agora é isso, aprender a voar, não romper os tendões de Aquiles como sugere a bula do remédio. ok, uma semana, uma semana compromissada a estar flanando num sofá.

terça-feira, 7 de julho de 2015

a indústria diz eu curo e o poeta? ai que escuro!

escrevam poemas como quem vende pirulitos
enquanto as farmácias vendem drogas mais convincentes
com a desculpa de matarem bactérias
escrevam mesmo escrevam mais escrevam
ai eu fiz isso aqui mas isso aqui não serve para nada
talvez sirva de cortina
mamãe eu trouxe um poema talvez sirva de bandeja?
ou o julinho, ali atrás? o desocupado; peçam pra ele,
talvez o fantasiem de palhaço
que desgraça ele anda ele atinge a praça ele escreve versos: 
amor nunca tive & o que não tive me deixou
& blablablá vivo a me mudar em cima do meu sofá & blablablablá 
& cita um vivo: um renomado, outro esquecido & depois até que é inteligente
mas OLHA não honesto: os honestos não saem bem na foto, e os que não saem bem
bem bem bem bem estes vão para o céu com Hölderlin &
só finja e finja mais um pouco como quem finge
quem finge na reta final o gozo o açúcar o perdão
vai remoendo circulando finja!
um verso palavrinha palavrinha vai dando
um poema! redija na forma mais altiva
e o chupe o chupe como pirulito
deixe ali
no canto não
com os cacos de vidro & eu não
eu não mastigo de boca fechada &
é, ele faz uma jocosidade qualquer &
lambendo um pirulito redondinho
e vermelho como o botão do fim do mundo
nessa rodada: duplo cowboy!
vamos gastar mais umas árvores? vamos!
pirulito gozado só gira na boca do mais certo
mas o que é o mais certo?
é o capaz rapaz que articula dez palavras
num só girar de dígitos
teclados bancários & afins
palmas para ele!
atravessando bits um efeito despedaço
bateu as asas levantou voo, voou?
estampado numa notícia: quem acreditou?
escrevam poemas como o alucinado fantasiado de anjo
que subiu no carrossel e disse: a mesquinhez
é o algodão doce dessa festa!
& nesses murais & nas bancas de jornais & as vitrines coisas & tais
só os legitimados! só os legitimados! circulando circulando
carimbados como touros! os passaportes!
sucesso & cana de açúcar para todos
andy dizia: forever não: cinco minutos de fama & eu direi:
cinco segundos a mais na cama, por favor & eu direi:
aos destroçados: façam mais!
as farmácias estão vendendo drogas com efeitos mais poderosos
enquanto a indústria diz eu curo & o poeta diz ai que escuro! & diz:
& diz & diz & diz & diz
a mesa do café está posta 
a rainha que não há não foi deposta & toda a vidinha blablablá
sou tão especial & escrevam
pra que ela — a vidinha — não seja exposta
& pra que a ternura! ah! a ternura pelo menos
a ternura! tenha resposta
mas o que você pode prometer? em troca?
te escrevo sobre aquilo te prometo ligar com os certos te prometo
ai me dá um pouquinho do seu fermento
ah um efeitozinho royal flush no coração
ai me poupe isso eu não faço não
enquanto as farmácias vendem drogas mais convincentes
escrevam poemas, é uma farra! é uma festa! é uma sexta! 
escrevam poemas como quem vende pirulitos.

domingo, 5 de julho de 2015

enquanto uns tentam fazer sentido, outros fazer sucesso,
alguns provocam o riso outros os jornais,
prefiro mesmo é fazer pesquisa nos meus versos.
o que eu pesquiso? longos tecidos do mútuo
esquecimento & arbusto.


*

& um novo livro que não tem nem um nenhum n1 poema de amor. e tem tanta esperança. tem muito fruto, água. tem órbita e abóbada. tem animal & humano & vegetal. ah! então tem amor mesmo sem ter. é o que se tem em tudo.


*

quem também acha impossível
pensar lendo jornal
me dá um balão de ar de presente?
pelas minhas perspectivas pesquisas espectantes
até o fim do ano pretendo ganhar uns 200
e, espetando cada um deles, espero
alcançar outro nível de vínculo
com a atmosfera.
 

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