segunda-feira, 27 de junho de 2011

mâno

meu deus, acho que do céu deste país quando chove cai poeta


SEGUNDO BALCÃO DOS BOMBEIROS


Neste tempo eu já lera as Brontë mas
como era um adolescente retardado
passava a noite em atrozes dilemas
que mais vale: amar, ser doutrem amado?


ainda não descobrira o simples disto
nem o essencial disto que é tão claro
se tudo no amor vem do imprevisto
deitar regras ao jogo pode sair caro

por isso eu amo e sou ou não benquisto
depende do instante bem ou mal azado
amor tem alegria, tem enfado
o happy end é coisa dos cinemas

#

APANHADOR DE PIRILAMPOS

A poluição dos escapes
os herbicidas
foram-vos empurrando
para fora
do Pinheiro Manso

antiga minha luz
particular
em noites doces
procuro-vos
e nada encontro
senão lixo
entre as folhas

fazeis-me
tanta falta
neste mundo escuro

#

A NAMORADINHA DE ORGANDI

Como na dança ritual dos patos colhereiros se te amei
foi a cem por cento da minha capacidade metafórica
mas copiado de livros onde o herói sempre enviuvava

cruzei imensas vezes sob a tua varanda com glicínias
pensando numa cena infeliz à moda do Harold

eu sonhava contigo?
                             eu assoava-me ao pijama!



[Fernando Assis Pacheco, do "Variações em Sousa".]

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