meia madrugada e eu nos lençóis muito brancos, toda molhada de suor, os sinos da face entupidos e doendo, minha cara enterrada no chão de um cemitério na terra úmida da noite. todo meu corpo vivo, mas o meu rosto já não tem pele, é só a caveira do meu esqueleto, de face enterrada na terra. e por cima dos ossos duros, como é grande ter um maxilar que lateja, não sou um monstro, só só os meus ossos apodrecendo, mas há vida que renasce onde cresce o musgo. ele é quem formiga, é dele a plantação. tive meu rosto enterrado no chão, meia madrugada, com o musgo. o frio do musgo. a proliferação do musgo. o sufocamento de ter musgos nas vias respiratórias.
e embora eu soubesse o delírio
(aquele que tantas vezes procuro),
quando a morte é certa como é sempre,
que medo terrífico.
consegui finalmente me levantar e fui tomar banho, cinco da manhã, 6 graus na primavera, 20 minutos debaixo de água, algo assim. lembro que cantei e senti falta dos meus pais. puro desamparo, certeza da morte. a água foi amansando. vim pra sala e só quando amanheceu é que voltei pro quarto, acalmada, fora da cova. dormi finalmente.
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