terça-feira, 9 de julho de 2013

e agora, josé?

cortar o vínculo com o não escrever, cortar o vínculo porque agora é hora de escrever, é hora de renascer 
como quem corta as unhas, embora um restinho de poeira por baixo delas penetre tudo, o restinho que faz da voz (ainda) o escuro
vontade de viver e vontade de chorar. aqui já é dia 10 de julho e ontem mercedes sosa faria aniversário e eu só soube disso depois da meia-noite. são os modos de se estar viva, ou a destruição da atenção. me joguei pra essa rede, como quem quer correr riscos. 
não entendo bem porque estou apertando o (antigo) enter para dar espaço entre as linhas. não estou entendendo o espaço entre as linhas. 
sei que hoje falei que a minha poesia é uma poesia pelo sentido. depois quem me lê estrebuchando de delírio não acredita. mas é verdade, eu sou até conservadora nesse (em muitos) aspectos. posso estar nas maiores peripécias sonoras, imagéticas, mas como uma linha de comboio o sentido apita. 
o que é quase como acreditar no estremecimento, digo, no amarulhamento, digo, no absurdo. 
por exemplo, não gosto muito de inventar palavras, nem de quando elas são inventadas. mas repentinamente invento uma palavra e passo a tarde com ela, eu que a cada dia suporto menos o açúcar, eu passo a tarde me adocicando toda. poderia rebolar até com essa palavra POR ESSA PALAVRA. mas habito o silêncio, mastigo uma biografia e outra ali, 
a minha própria andei digerindo mal
quer dizer, fiquei à toa e só por mim a nada nada nada 
registro aqui NADA meses de nada nada
ou o reabastecimento ou a substituição ou o descanso ou o rancor tipo AGORA MAIS SENTIMENTAL
sofri pra caceta é essa a verdade. mas algo virou no ar virado desse julho (o julho mais quente que já vivi). e isso tem a ver com a caminhada que fizemos, em que meus calcanhares ficaram em carne-viva e mesmo assim (ou com isso) resisti e pude entrar e entrei em contato 

em contato com o quê? 

não sei com que calcanhares nos ata o destino. pensei no caminho como uma linha que cortasse minha pele, e as agulhas afundadas sujas mesmo, sujas de sangue, as agulhas foram jogadas fora, e a linha ainda cinge ranhura de pele, mas acho que volvi, sempre sincera.

ou: a sinceridade era a minha arma. os outros talvez a utilizassem por fraqueza. a minha força era tornar-me fraca. agora não sei, se é sempre aquela história do sentido, ou se é sempre uma legitimação. 

tipo hoje que eu quebrei a santa símbolo. não era minha intenção, mas o esquecimento sim. dias atrás perdi meu cartão do banco, hoje quebrei uma santa. eu entendo isso tudo como pequenos avisos, que por mais que tenham me aparecido pessoas que me dêem uma aula sobre o assunto que na véspera me faltava, e exista quem chore na minha frente, tem um constrito no ar. tipo como quem diz: nem com essa bola toda teus calcanhares saravam, 

seguem sangrando 
eu, com alguma convicção,
de que a fraqueza era o meu forte, 
subi em cima da muralha da fortaleza e sorrindo
ela se desfez.  

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