sábado, 10 de maio de 2014

se ela morde? é claro.

depois de ver (no estado de sp) a notícia de um homem que tinha o coração do lado direito cheio de ar preso do outro lado (o do coração), isso depois de acidentado, eu não duvido de quase nada, ainda mais em termos de medicina.
confio até o limite fatal da fé na heroína de rosto de âmbar que me convidou pra dançar, digo, da heroína que coloca em órbita o sim entre as moléculas. você nunca a viu? não sei por onde você tem andado, já ela é um clássico, daqueles que quando toca, revigora.
vertigem? não, não, meu amigo, isto foi algo que você comeu, nada tem a ver com a serpente que ela leva no ombro, de nome Alegria e que nunca será domesticada.

quinta-feira, 8 de maio de 2014

oh how


década

estou mirando a grande mudança acontecida
na virada dos 29 para os 30 anos
não, não falo de voltar para este país
nem recordo de um momento em que não fui casada
e nem é tanto a aparição das novas dores
pois já me vejo dos 69 pros 70, reticente 
"a cada década novas doenças pra gente tratar".
não, nem é isso de que na minha postura
está nascendo uma nova postura
onde o esforço é o relaxamento da mandíbula
que há-de reaprender a não se magoar tanto
como também tenho aprendido
a metabolizar o que me acontece.

a alteração, a mudança, a novidade
(tão grande entre palavras caras: a transformação)
é que primeiro vieram as exclamações
como é bom tê-las: !!!!!!! poupá-las
por quê? nem vergonha tenho de dizer com muitas delas
"amor!!!" ou, "que coisa!!!"; "calma!!!".
"qualquer coisa" é que não sei se dá pra exclamar...
o sinal imenso mesmo das reticências.
logo estarei a gotejar suspiros numa chuva oblíqua?
antes, meditar: por que nos recusarmos aos pontos diversos?
se outros usam tantas aspas que, de tão gastas,
nem se envergonham mais?

montes da minha urbanidade

comendo meu bife preferido eu estava na cidade de são paulo
sozinha, ouvindo a conversa da mesa ao lado
onde uma menina de vinte anos estrebuchava altamente
e comendo a mesma coisa que eu comia também quando tinha vinte anos
e que agora aos trinta continuo comendo, a menina dizia
"tenho vinte anos e não tenho profissão! sou inútil! não tenho o que fazer"
e de repente vi que eu estava lá pra ouvir aquilo & perceber
que isso há uma década me revolve o pensamento, porque agora,...
deixei minhas mãos para trás, não sem antes largar um peso
que trazia agarrado nas palmas. deixei ali mesmo.
embaixo da mesa do restaurante, larguei o medo do futuro
e quando coloquei meus fones pra vir a pé até em casa
a primeira música que tocou foi




e eu subi a aspicuelta dando altos passinhos e saltos,

quarta-feira, 7 de maio de 2014

.

ontem me cometi a violência de ver o vídeo da mulher linchada até a morte no Guarujá, cidade onde, embora longe do lugar onde ela foi assassinada, passei muitas férias.

matarem alguém na porrada tem sido recorrente, acho que nem todos meus amigos portugueses sabem, tem sido recorrente, habitual lincharem pessoas no Brasil de hoje.

hoje. hoje. hoje.

em muitos momentos a história da humanidade é a história do massacre da humanidade e em alguns momentos temos mais consciência disso. não acho trivial a recorrência com que ouço e leio associações do tempo presente ao nazismo, com a idade média, ou à ditadura. vocês acham que nos associar a esses tempos significa o quê? eu só consigo pensar que vivemos tempos sombrios. pelo menos eu, muitas vezes sonho com a guerra, eu que nunca vivi numa. mas não quero ir pela sombra, nem quero deixar que a guerra me pouse nos ombros. nem nos vossos.

mas ela pousa.
olha que pousa.

acho que é preciso pensar.

o que consegui pensar enquanto assistia é que poderia ser qualquer um no lugar dela. outros amigos disseram o mesmo. o deputado Wyllys (que é um sujeito raríssimo nesses tempos, sobretudo por combinar autoridade com alguém a quem se deve respeitar) numa recente colocação lembrou bem que provavelmente não seria qualquer um. seria alguém massacrado pela história da desigualdade social e racial que é o Brasil, alguém massacrado cotidianamente pelos contextos que a história (e a irresponsabilidade política e institucional) produziu e continua a produzir.

se é função política obrigatória lembrar de que as vítimas são vítimas, por outro lado, acho que isso faz muita gente se sentir segura, afinal supõe "a barbárie nunca me alcançará". o sinal primeiro de que ela já chegou não é quando acontecer com o seu vizinho, mas é você viver com tamanha inumanidade no seu coraçãozinho.

lembrei-me também de quando era criança e na escola eu salvava os gatos que algumas crianças tentavam massacrar. elas o faziam por pura crueldade? por diversão? por senso de manada? é o mesmo problema, o problema da banalidade do mal, com o agravante de que seres humanos e adultos seriam pensantes. mas o mal é banal, o mal é qualquer coisa, não é grande coisa, embora seja a pior.

num momento em que tanta estupidez, ignorância, violência e destruição se qualificam como justiça, é um tanto embaraçoso, é quase confuso falar em justiça, não a justiça feita com as próprias mãos, mas a justiça feita pela justiça, a responsabilização dos culpados (diretos e indiretos) pelo assassinato, por exemplo, da mulher que estava guardando na mão uma bíblia com a foto das crianças dela, da mulher que estava saindo da igreja e que tinha transtorno bi-polar, da mulher que foi por um boato (espalhado nesse mesmo facebook em que você almoça) acusada ou confundida com alguém que fazia "magia negra" com crianças hipotéticas e coitadas e que assim merecia ser... massacrada. massacrada com paus e pneus e risos e gritos, massacrada sem nenhuma chance de reação, sem nenhuma hipótese de vida, destruída de um modo banal. morta.

e por que não responsabilizar os responsáveis? a resposta de muita gente será... "a justiça? ela não funciona". resposta mais do que triste de uma lucidez derrotada, esta é uma resposta inviável.

terça-feira, 6 de maio de 2014

duerme, amorcito

cada vez mais gosto de palavras velhas
gosto de respeito gosto de cerne e de paraíso
de cebola e de viagem, gosto de cidade
não gosto de víbora, mas tenho o que aprender
não tenho ido ao cinema, mas amigos me visitam
e a minha gata quando se entendia pede pra entrar no armário
já eu volto a escrever qualquer coisa pra comemorar
o próximo, o distante; o crescente e o minguante
e sobretudo a palavra que adoro: palavra
rara. tão válida e nunca virgem, pura, não casta
entre tudo isso, sendo, o entre sendo isso: nós.
taí, uma palavra que não esqueço.

sinchi




o símbolo é ativo operativo como a membrana entre os dentes e a gengiva, que não sei se existe, mas está presente neste raciocínio, pelo menos. prova substituta pra isso não há. parece que a corporificação é a mais comum forma de raciocínio, e também que uma série de imagens de mim mesma estão se desfazendo. é comum uma resistência maior quando algo vai se desfazer embora o terreno já esteja mais recebendo os adubos dessa transmissão do que fincando as raízes do (novo?) conhecimento. sei que estou para escrever o poema que eu mais desejo, e aqui estou falando da dissolução das imagens de mim para mim, ou pelo menos de uma menor importância pras coisas em mim, o que na verdade talvez seja só o ajuste final de saturno. ouço completamente bem? não é que eu esteja mudando, é que não estou valorizando essa mudança de tão rápida que ela tem sido. não é que eu não esteja valorizando, ela é corporificação que não encontra valor. curioso ouvir que o caminho que leva para cima é o caminho que leva para baixo, thomas sterne já comunicava há mil anos atrás. é essa tanta novidade da vida que tem me feito fechar (irresponsavelmente) a comunicação. e, no limite, estamos refeitas: o cerne estava no corpo. o cerne continua no corpo. só que agora tenho mais corpos. e todos eles me interessam. e, espero, essa sacralidade do corpo não é tornar-se mais, é tornar-se o que se é. como já era. e está sendo. r e s p e i t o.

domingo, 4 de maio de 2014

"Beauty in art reminds one what is worth while. I am not now speaking of shams. I mean beauty, not slither, not sentimentalizing about beauty, not telling people that beauty is the proper and respectable thing. I mean beauty. You don’t argue about an April wind, you feel bucked up when you meet it. You feel bucked up when you come on a swift moving thought in Plato or on a fine line in a statue".

Ezra Pound
 

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