PASSAMANARAGEM
O passado — que não existe — é talvez
minha única invenção gloriosa. Por ele eu crio algumas linhas
que me iludem na dissolução
da hora presente sem finalidade.
Por não lembrar de mais nada, exatamente como foi,
eu falsifico uma pessoa
que tende a ser melhor do que eu sou
e a agir brilhantemente
em qualquer aperto.
Minha idéia de mim é como a história
de um país que se idolatra em seus mortos
enforcados ilustres.
Afirmo ter estado nas paisagens do armário
que sonhei ou são
mas não encontro jamais uma das caras possíveis
por essa peregrinação da cabeça
em minhas sendas.
Só a hora presente é o meu país sem progresso
e sem grandeza.
Só as aves entendem
o que estou olhando ao longe
sem pensar mas sentindo
minha insignificância perfeita.
- - -
Leonardo Fróes, em Sibilitz.
segunda-feira, 29 de setembro de 2014
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