segunda-feira, 13 de março de 2017

Peixes

desde que o sol entrou em Peixes, sem pensar muito claramente fui deixando fluir este texto. acabo por escrevê-lo neste domingo, num momento em que tenho espaço emocional & acabou de acontecer a lua cheia no eixo de oposição complementar que Peixes forma com Virgem. coesão e silêncio, purificação e prazer, dispersão e rigor estão conversando nos céus. pelos vistos para escrever sobre Peixes eu precisava mesmo de um dia em que êxtase e critério estão em questão como hoje. Peixes têm isso: ritmo.

com seus irmãos Câncer e Escorpião, Peixes é um signo de água, signo portanto de emoção, comoção: mutualidade. mais que mutualidade: comunhão: onde os ritmos de dentro e os ritmos de fora da gente são uma mesma coisa. isto também é algo que nos ensina o signo de Peixes. porque, verdadeiramente, sinto que nós temos todos o que aprender com eles, os últimos, os derradeiros, os que passaram por tudo e que são tudo e (ao mesmo tempo) são o vazio. mas não é preciso se curvar para aprender algo com Peixes, nem eles precisam formular opiniões, métodos e verdades como seus primos mutáveis (Gêmeos, Virgem, Sagitário) passam a vida a fazer. é caso de simplesmente se aproximar e deixar fluir, intuir, sentir. sensibilizar, contaminar.

se Peixes se aproxima, encosta e revela sua capacidade de mutualidade imediata. "minha especialidade é a metamorfose" alguém pisciano poderia dizer com afeto, enquanto foge da sua incapacidade de separar as próprias coisas e os problemas dos outros das próprias questões. personalidades piscianas estão sempre a fazer algo pelo outro e às vezes sem nem perceber. muitas vezes é bondade, às vezes é indulgência, ou inconsciência.

podem fazer isso pela compaixão intrínseca que carregam, uma compaixão por vezes sofredora como a de Cristo, em outras liberta como Buda; ou podem fazer pelos outros (perigo!) por uma alienação da capacidade de decidirem o próprio rumo, ou de se aperceberem das próprias sensibilidades. Peixes é tão sensível que às vezes para descansar de si procura anestesias. é compreensível, mas nada é mais perigoso para Peixes do que deixar de sentir.

pessoas com ênfase no signo de Peixes têm que se proteger. corpo/espírito/mente/emoção são uma mesma coisa. seja brisa ou furacão todo movimento ao redor altera os fluxos das ondas, e Peixes está sempre no plural: indo para múltiplos lados. e Peixes que não encontra a própria força de vontade é mais perigoso que rodamoinho no mar.

não quero dizer com essas coisas que piscianos não possam ser bravos. suas altíssimas capacidades de aceitação e perdão vão até depois do depois do perdão, mas uma pessoa de Peixes que seja invadida ou tomada pela revolta pode fincar seu tridente como o mar que avança sem nunca retroceder. tsunamis, mares de ressaca, fúrias sem sentido muito aparente que arrastam tudo o que não quer ser levado. Peixes leva. e embora leve raramente em fúria, Peixes mais naturalmente leva tanto que pode até ludibriar, a lábia da sua postura conciliadora, redentora e/ou de sedução.

sedutores e dramáticos. como sofrem em silêncio, como sofrem em lágrimas. sofrem. e Peixes precisa escutar o próprio sofrimento. precisa aprender a ouvir e a cuidar de seu corpo/espírito/mente/emoção pra não ficar só no blue blue blue, sozinho no fundo da escuridão do mar.

mas Peixes também precisa de alguma solidão pra se recompor, pois em qualquer ambiente Peixes é a antena e a esponja. a capacidade de absorção pisciana é do tamanho do mar inteiro. com isto, Peixes precisa buscar nitidez e algo me diz que o modo de consegui-la passa por criar consigo mesmo a mesma mutualidade que tem, sem mediação, com o fora. Peixes não tem filtro. Peixes tem e precisa de vida interior.

muitas vezes que vejo piscianos sofrendo e desesperados tenho a impressão de que eles não estão exatamente confusos: estão poluídos, contaminados. com isto, todas as formas de cura energética, das psicologias às massagens, das meditações aos xamanismos, isto sem falar nas práticas espirituais sagradas ou não, os processos simbólicos, as festas onde os egos se perdem, os êxtases reveladores das alterações da consciência, todas podem ser recomendadas e serem proveitosas para Peixes.

mistério sempre há de pintar por aí e Peixes têm sempre sempre sempre que limpar, purificar. e quando fazem isto: que calma e paciência antiga possuem de espírito & alma. porque, claro, se há signo que tem espírito e alma, este signo é Peixes. Peixes abarca, Peixes é o colo de Iemanjá.

isto pra dizer que de modo algum a limpeza pisciana se dará de modo higienista e criterioso como seu oposto complementar que é Virgem. Virgem cria meios e modos, Peixes é a entrega à perda de conceitos e às vezes isto mesmo, um pouco de caos ajuda Peixes a se encontrar. a convivência tranquila com sua mutualidade a tudo, às vezes é o suficiente para fazer com que um pisciano se purifique. sendo ambos os signos da cura, Peixes divide com Virgem o eixo da medicina, e com esta responsabilidade certamente é importante que Peixes se firme no espaço-tempo do próprio corpo, mas isto dificilmente se dará por alguma via rigorosa, restritiva. mais proveitoso é acalentar, acolher a própria sensibilidade. Peixes é sensibilidade. é a dança.

signo de silêncio e de escuta, Peixes é música, os poros abertos, os pés ágeis. Peixes ouvem com a pele e muitas vezes se tem o costume de chamar a atenção dos piscianos por eles perderem o contorno da realidade, seja através de drogas, das artes, da loucura. sempre na borda entre o lá e cá, a supraconsciência do delírio, os escapismos, as fugas, as imaginações: Peixes é suscetível. também ao medo de se perder na imensidão. que desespero, mas desconfio às vezes que Peixes se perde para compor-se, para compor.

provavelmente exagero de afeto: mas Peixes parece mesmo inclinado ao poético, a uma capacidade lírica de articular sentido e emoção, imagem e transcendência. com meu ascendente em Peixes e sendo neta, tia, irmã, nora e melhor amiga de cardumes de piscianos sou suspeita, sou por eles encantada. mas quem resistiria? não é o que fazem com todos que se entregam a sensibilidade?

às vezes entendo que a gente vive numa sociedade sistemática e rígida demais para Peixes. quantas vezes atendo piscianos diagnosticados com rótulos diversos, dos psiquiátricos aos espirituais, e tenho a impressão de que nenhuma tarja dará conta de explicar a um pisciano a sua própria sensibilidade. é preciso muito convívio e cuidado. e às vezes acho mesmo, que em termos sociais, temos muito o que aprender com Peixes, enquanto eles correm cotidianamente o risco do descontrole pessoal ou de servirem de epicentro para os sintomas sociais. signo de somatizações, se algo não vai bem em corpo/espírito/emoção todo o sistema cai, seja em doenças psíquicas ou em problemas de imunidade.

dotados de humor como todos os signos mutáveis, a mesma dispersão que às vezes atravessa seus calendários é a diversão que consagram, por não terem medo da falta de sentido, tudo está tão interligado que também são capazes de dar sentido a tudo. são os reis do nonsense. e quem diz que Peixes é desligado não sacou nada. estão é ligados noutra respiração, seja a própria, seja da consciência vegetal ao lado, a observação de um chacra ou de um cartão postal. Peixes viaja.

um dos signos ligados ao êxtase, Peixes é a falta de fronteiras entre os corpos, os planos reais e imaginários da vida, o que não faz sentido pra Peixes é tentar controlar as sensibilidades em certo e errado. Peixes pode nos ensinar que se tratarmos as coisas objetivamente chegaremos cansados de tanto pensar. e que pensar ainda não é sentir. ou seja: relaxa.

Peixes atravessam todas as finas camadas das energias vivas, penetram fluidos em cada sensação e sentem, sentem a existência de cada ser (i)material dos espaço-tempo. e fazem tudo isto de modo passivo, quer dizer, sem perceber que são atravessados por tudo que atravessam e travessia, travessia: Peixes são os vínculos, os transmissores da simultaneidade.

todo Peixes é uma coragem rara, uma coragem terna e delicada: a coragem de ser sensível.

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