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sábado, 4 de maio de 2013

primeiro dia de escola


pro inferno com a literatura

este é pro Marcos

Numa coincidência infame
tivemos a oportunidade
Bob Dylan e eu
de morrermos os dois amanhã

e os amigos lembrariam
ah como tinha futuro
ah como tinha talento
ah como sabia viver
ah como tinha sorte
ah até que veio que morreu no mesmo dia que o Bob Dylan
eu nunca me esqueceria desse dia estavam ambos em Lisboa
tomada por um ataque nos eléctricos nos bondes nos pickpockets
no pitoresco mundo ibérico dos franceses que em realidade nunca entendem absolutamente nada ah souvenires coqueluches tíquetes de ingresso aos céus! meia dúzia de vezes em um século alguém pode dizer que sua amiga morreu no mesmo dia que o Bob Dylan morreu.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

olhos que em terra firme pousaram

segunda-feira. meio de novembro. as cápsulas chinesas harmonizaram a minha temperatura o suficiente para que meu corpo inteiro não esteja doendo o tempo inteiro nessa entrada do frio pelos poros e músculos, também chamada outono. 
2012.
consegui me acalmar em relação as burocracias de renovação dos papéis e me parece que estarei confiante pelo resto da estação. isto tem a ver, sobretudo, com estar conseguindo me sentir em dia com tudo. hoje foi a primeira vez em muitos meses que não tenho nenhum email não lido na caixa de entrada.
não lido means não respondido, no meu vocabulário de convívio.
na quinta-feira passada escrevi um poema do destino do mar. não sei, mas também fazia muitos meses (seis, talvez?) que não escrevia e terminava um poema para o livro. não que eu não estivesse conseguindo escrever, eu não estava é me sentindo identificada com o que escrevia. mesmo as coisas deste blogue. por mais que eu me entregue aos fluxos, não acredito sempre estar entregue a eles, ou estar neles. 
isto estava me fazendo sofrer. não escrever. então escrevi um poema. 
depois chorei duas horas por conta da burocracia dos papéis de renovação do meu visto e toda essa fartura que é ser estrangeira num país em que todas as pessoas estão, umas mais outras menos, infelizes.   é claro que, como disse o daniel, chorar era um ponto furo. 
mas eu choro quando as coisas morrem e eu me sinto feliz. ou eu choro até chegar nesse lugar em que as coisas morrem e eu me sinto feliz. 
então dormi, a cabeça estourando. acordei com as vias respiratórias estourando de secas pelas lágrimas da noite anterior. e ao me sentar para ler o poema, percebi que ele era o último. o último poema do livro, o vinte e seis, que havia tempo já que eu pensava nele. era meu movimento sempre futuro: o último poema, que vai fechar o livro, eu pensava nele como uma cortina que fecha a fábula, assim como o "farewell" foi no cde. 
o XXVI não. afinal, o pdddm não tem a fábula como espectro feito o cde tinha. nele se fala de dúvidas. algo que se quebrou e, no entanto, por haver se quebrado, está mais forte. o XXVI é calmo e leve, só trabalhando com a força que restou. nem heróico, nem infantil. mas estival, aberto.
dito que o XXVI chegou, concluí que todo o resto devia acabar. e o objeto me dizendo livro, claramente, adeus. ainda temos algumas despedidas, mas março, quem sabe, além da primavera, trará "alforria blues ou poemas do destino do mar", impresso, publicado, outro, seu.


sexta-feira, 22 de abril de 2011

strike a poet

Tiro fotos da minha casa até acreditar que é uma cidade
sigo abraçando cadeiras entre o olhar imperativo dos
gatos a mão que afaga este problema a materialidade
dos livros ajuda no colegial me chamavam de menina
de outra época meu pai dizia que minha avó era uma
mulher da terra isso resume pra mim toda a poesia
contemporânea de repente ganharam o medo de dizer
coração é preciso paciência e a sensibilidade de um peixe.

Devem me ver como um dragão rasante, os miados
num abraço a gatinha tem fome e cheiro de ser vivo
pela primeira vez em um mês deixo a sala é mais fácil o
mar abrir em dois do que interromper o trânsito é por
isso que não atravesso a rua meio-dia sou o Torquato de
colar de contas descendo as delícias de aves nas mãos ela
pensa em casamento no sol de quase dezembro uma mãe
me olha saindo pelo corredor

até o portãozinho de aço range a filha vai pra escola
a mala de rodinha, vergonha não é a palavra
finalmente, virei artista os dedos sujos de tinta
e o uniforme azul-marinho o cabelo imundo embora
a seda tenha rasgado só consigo desafinar o coro dos
contentes me alimentar com drogas pra me manter
escrevendo acordada e cansada e insuficiente esta melodia
chega o texto ao fim e não reviso, it’s friday I’m in love.
 
 

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