domingo, 29 de agosto de 2010

e não é que já ouço o português de Portugal sem perceber o sotaque? só noto quando acontecem grandes atos coletivos, tipo ontem quando vi duas pessoas discutindo no trânsito, - - é cômico, são obrigados a vestirem uns coletes verde-fosforescente quando batem os carros ou trocam os pneus, - - - ou ainda mais, pronto! quando ouvi cantarem "parabéns a você", não só pelo "cantam as as nossas almas" no lugar de "é pique, é pique, é pique", mas na força da reunião, mesmo, percebo nos juntares das vozes os trejeitos, o sotaque como um dilúvio, - - -

sábado, 28 de agosto de 2010

peixe espada, da cidade soube luz

já não entendo mais nada, absolutamente. quando alguém que escreve encontra que o texto é sensação e não prodígio de soluções, onde está o grito, o dito, que poderá me re-suspender? tenho vontade de dormir e vontade de trabalhar e as palavras perdem os eixos, como um caminhão tombado sem rodas, quando as leio elas já não são mais nada, estão nelas mesmas me olhando e se eu sondo encadear colocam: fluxo fluxo, onde está? não consigo colocar muito.

enquanto isso o corpo transfigura, relata uma cidade encantada onde os dutos todos, meio entupidos, fazem eco, se criamos uma batida meio crua, com as mãos pelos canos, podemos enfim constatar que somos uma cintilação do espaço, e os sentidos são nada mais do que uma metereologia. pensei que sou nova demais pra ser escritora já pensando assim. pelo menos consegui formular, finalmente, o que pra mim é uma novidade velha.

IX

Dentro dele mora um bosque de musgo
um nadador a dar ordem as ondas
de cujo olhar ao espelho, o teto do mundo, nasce
arrefece as costas no pássaro que mergulha, céu,
voa.

domingo, 22 de agosto de 2010

quinta-feira, 19 de agosto de 2010





I

antes de dormir, ontem, eu lia, crescente de honestidade o meu al berto - - - ou as desfibrilações que sinto ao deitar, coração que vira terremoto, a idade do tempo, a coluna vertebral do tempo se agitando é um fóssil, no mais marinho dos oceanos, o sono que se aproxima, e sinto nas minhas pálpebras que piscam no travesseiro, os cílios arados do medo. ouvia esse bater dos olhos quando criança e achava que eram os mortos que se comunicam nos segundos anteriores do dormir. falavam só de espanto e o estouro de silêncio da ausência colava nas paredes do quarto.

sábado, 14 de agosto de 2010

vem de mim, se aproxima com aquele sorriso caiado, aquele jeito que eu falo, que você fala e a gente nunca encontra uma língua que fale a do outro e cada um no seu vaso, vento e ventre, a gente então aí, se entende

OU

a vida que se encontra no desconhecido


OU

agora em solo europeu (kkkquase) entendo/penso invento/percebo a necessidade de conceber o informe como resistência/liberdade; para isso "architeture", "les grois orteil", "informe", do Bataille, na Documents


(ou entendo porque meus amigos daqui todos gostam tanto do que parece não fazer sentido, como tem espaço pra invenção, porque o sentido é CONSERVADOR. - - - anchovas de sentido, picles de sentido. - - - but I will be, forever, a drummondian girl,)


de todo modo sempre inventar uma poética que não rasure a paisagem, antes a invente: se sobressai isso em: fazendo dos rascunhos, definitivos. talvez isso seja um modo de dizer do mar.

e meu modo único de respirar.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010



segunda-feira, 9 de agosto de 2010

as coisas no meu quarto/casa tão bagunçadas de um jeito que eu não consigo nem começar a colocar ordem. lápis, canetas, guaches, roupas, livros, louças, pincéis, máquinas de escrever, de fotografar, de mensagear, de conectar e também, propriamente, santos, budas, orixás, pedras da cidade, fotos de amigos de outro lugar, cartões postais, cartas já preparadas e ainda não enviadas, pastas vazias, idéias incompletas, sussuros, 35 graus e nublado hoje entendi o que é pressão atmosférica,

selvagem é o clima temperado, viram, porra vida bizarra de cada 3 meses completamente diferentes um dos outros

o único poema sincero da história é o "cântico dos cânticos de salomão" mas quem mexe nele mente

o alvo é só um vulto

sábado, 7 de agosto de 2010

certas coisas que não se podem esquecer

MUNDO GRANDE

Não, meu coração não é maior que o mundo.
É muito menor.
Nele não cabem nem as minhas dores.
Por isso gosto tanto de me contar.
Por isso me dispo,
por isso me grito,
por isso freqüento os jornais, me exponho
cruamente nas livrarias:preciso de todos.

Sim, meu coração é muito pequeno.
Só agora vejo que nele não cabem os homens.
Os homens estão cá fora, estão na rua.
A rua é enorme. Maior, muito maior do que eu esperava.
Mas também a rua não cabe todos os homens.
A rua é menor que o mundo.
O mundo é grande.

Tu sabes como é grande o mundo.
Conheces os navios que levam petróleo e livros,
carne e algodão.
Viste as diferentes cores dos homens,
as diferentes dores dos homens,
sabes como é difícil sofrer tudo isso, amontoar tudo isso
num só peito de homem...sem que ele estale.

Fecha os olhos e esquece.
Escuta a água nos vidros,
tão calma. Não anuncia nada.
Entretanto escorre nas mãos,
tão calma! Vai inundando tudo...

Renascerão as cidades submersas?
Os homens submersos-voltarão?
Meu coração não sabe.
Estúpido, ridículo e frágil é meu coração.
Só agora descubro
como é triste ignorar certas coisas.
(Na solidão de indivíduo
desaprendi a linguagem
com que homens se comunicam).

Outrora escutei os anjos,
as sonatas, os poemas, as confissões patéticas.
Nunca escutei voz de gente.
Em verdade sou muito pobre.

Outrora viajei
países imaginários, fáceis de habitar,
ilhas sem problemas, não obstante
exaustivas e convocando ao suicídio.

Meus amigos foram às ilhas.
Ilhas perdem o homem.
Entretanto alguns se salvaram e
trouxeram a notícia
que o mundo, o grande mundo está
crescendo todos os dias,
entre o fogo e o amor.

Então, meu coração também pode crescer.
Entre o amor e o fogo,
entre a vida e o fogo,
meu coração cresce dez metros e explode.
-ó, vida futura! Nós te criaremos.



[do Drummond, no Sentimento do Mundo].

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

songs, days, suor

cavei minha ansiedade porque criei uma aterrisagem de futuro no presente. vertigem.

eu não penso o que escrevo, cada vez mais. não penso o que escrevo. é o pensamento que se escreve e pensa enquanto instrumento (a mão-guindaste). e o exagero, exagero. exagero que nunca de mim escapa. a maré tá subindo. vou ter que sair da gruta-delícia.

fico um pouco em dúvida às vezes da eficiência do novo protetor solar. minha capa invernal às vezes caí do armário quando tiro um vestido. com o peso/pêlo dela me assando os dedos penso, preocupamo-nos com cada coisa em cada certa estação.

tudo o que pensamos é colocado para as emoções. talvez escrever signifique nas palavras, efetue?, um sentimento?

pelo menos eu, me ponho em auto-contato.



estou em SAGRES
que coisa estranha é essa?
é a eterna falta do que falar que bate tão indefinida?
é sempre o canto. e eu com ele, só.


cantei "vida louca vida" pro vento e os canhões. e ninguém, ninguém, nem essas ervas, nunca cresceu como eu.



"capacidade de ouvir e surpreender." fpd


o que há de algo a se escolher já se escolheu e não há mais o que mudar. talvez viver. e haverá que preferir outras saídas. criar saídas laterais.


*
e poderíamos atravessar um universo de estrelas. isso na vida toda. e o que calhasse era viver e sorrir, das coisas que me lembro.

se aqui em casa não tivesse um monstro eu te convidava para vir. dançar as hecatombes. mentias como dançavas os rituais. são as únicas mortes que nos são permitidas ou alguém acredita na solidão? estou hoje maduro como se estivesse disposto.

*

estou é justamente interessada em não partir. vamos levantar o ritmo de transformação para o centro da escrita. efetuá-lo para além da vida. é uma nova descoberta para mim que jovens - - - .

saindo do metro na constatação absoluta de que vivo nesta cidade segura, quente em julho.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

em Lisboa há abacates que secam antes de amadurecer.



É tanta a minha mania de observar. Os objetos foram se apropriando do tempo até se tornarem histórias esquecidas. Apertam o olhar como se amarrassem os órgãos do pousar por mais que um instante de mosca. Quando voltar ao topo: Pousar feito um pássaro nas histórias. Anteceder os sismos do alto conceber o azul.
 

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