meus lábios estão partidos e acho que me apaixonei. preciso fazer uma lista das coisas que me importam e dar pra ele. abacate com limão ardeu minha boca. a água do banho estava quente e me queimou os pés. nunca ganhei um anel de alguém, ao que parece, ainda estou livre. e se um dia nosso amor me encher de dúvidas, não saberei como resolvê-las.
quinta-feira, 27 de maio de 2010
vitalidade
o espelho: dividir o corpo em heterônimos.
o mundo: espalhar os heterônimos em cores.
as cores: repartir os espelhos com todos.
o mundo: espalhar os heterônimos em cores.
as cores: repartir os espelhos com todos.
diria nessa manhã que já é tarde
XIV
Uma viagem sem fim, Túlio, eu te proponho
Um percorrer o mundo, vagaroso, uns caminhares
Largos, entre a montanha e o vale, e acertos
Entre nós dois, nós viajores, nós repensando
Os rios,
E um campo de papoulas nos tomando, um frêmito
Luminoso,
Agudos, inquietantes no entender dos outros,
Lúdicos como convém a cálidos amantes.
Viagem de madrugada milenares, Sírius intensa,
Tudo ao redor papoulas e cerejas, como convém
A mim, louca de lucidez, e como a ti, Túlio,
Comigo, te convém.
[Hilda Hilst, do "O poeta inventa viagem, retorno, e sofre de saudade" no Júbilo, Memória, Noviciado da Paixão.]
XIV
Uma viagem sem fim, Túlio, eu te proponho
Um percorrer o mundo, vagaroso, uns caminhares
Largos, entre a montanha e o vale, e acertos
Entre nós dois, nós viajores, nós repensando
Os rios,
E um campo de papoulas nos tomando, um frêmito
Luminoso,
Agudos, inquietantes no entender dos outros,
Lúdicos como convém a cálidos amantes.
Viagem de madrugada milenares, Sírius intensa,
Tudo ao redor papoulas e cerejas, como convém
A mim, louca de lucidez, e como a ti, Túlio,
Comigo, te convém.
[Hilda Hilst, do "O poeta inventa viagem, retorno, e sofre de saudade" no Júbilo, Memória, Noviciado da Paixão.]
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amigos amigos negócios reparte
domingo, 23 de maio de 2010
o fim da história
se essa história acabar como está, certamente. certamente minha fatal memória será das promessas cumpridas em frustrações, sucessivamente.
sexta-feira, 21 de maio de 2010
quinta-feira, 20 de maio de 2010
o problema da internet a todo momento, do uso da internet a todo momento é que ela é uma permeabilidade extensa que inibe outras permeabilidades. por exemplo o som dessa mesa sem o ruído do computador. porque a madeira da mesa não grita, mas vive. desligado aqui, posso encontrar a fibra da minha própria mesa de estar. sem esperar pelo e-mail de ninguém. quantas vidas ainda se tem, nessa? quero uma outra vida, e que ela seja desconectada.
os livros que atravessaram
os livros que me atravessaram até agora reencontrei com eles
em realidade eu só sei fazer uma correspondência entre uma coisa e outra
e ver
brilhar eu gosto das coisas que brilham e são quentes
gosto de ver e de olhar sem ver
aqui fica tão seco
os livros que atravessaram o Atlântico enviados pelo meu pai, os livros
livros que eu escolhi livros que eu roubei da minha estante de livros no embu
eu a cada dia mais gosto dos livros porque eu no começo não gostava deles
é preciso abrir os livros
e eu gosto de pessoas e de música
que vem até mim, os livros não chegam a tanto sem meu impulso
e meus impulsos são corriqueiros
eu gostava de escrever porque era o que me acontecia porque alguma coisa pra contar ou simplesmente dançar porque escrever é perder toda a atenção e esquecer o rosto em cima de alguma coisa que é uma chama
e eu nunca nem pensava que isso um dia daria em um livro e que depois eu ia querer fazer outro livro
(fase em que agora me encontro_ _ as moedas também estão ali nessa fase pra correrem esse risco de serem minhas até que eu precise tanto delas que darei a outro, em troca)
mas tudo isso porque eu quero dizer, eu quero dizer, eu quero dizer
que os livros atravessaram do Brasil pra cá durante um mês e ainda assim chegaram úmidos por dentro, da carne do meio das páginas, os livros que estavam úmidos será que é essa a hora de com algodão secá-los da úmida solidão do que está escrito mas, veja bem, eu vejo.
eu que já disse que gosto de ver senti o cheiro da umidade brasileira e, digo mais, tenho alergia
faz uma semana que leio, leio, leio. pra depois escrever, escrever. entendi muita coisa essa semana. entendi, por exemplo, a importância da transmissão. também porque esquentou maravilhosamente esquentou. e eu fiquei feliz. eu fiquei tão feliz esses últimos dias com a vida mesmo e só.
depois pensei que me aconteceram umas coisas maravilhosas nos últimos dias.
e de repente me deu um medo e medo é vontade de poupar tudo.
(não estou poupando nada a não ser umas gorduras)
(enquanto isso a música alta, percebo, 0h00 em Portugal)
(27, 28 graus)
(em Portugal, Portugal não rima com grau)
(nossa língua desigual)
(esses últimos dias fiquei sem falar com ninguém vou no parque deito e tenho certeza que estão falando flamengo, esfrego os ouvidos e é português. depois é flamengo de novo. e às vezes é mesmo, flamengo, tcheco, russo, alemão. então todos estão falando português de Portugal.)
(acho que esse verão viro basco, baco, basquiat)
e o Leon K. escreve contra a "comunicação preservativa". eu acho que ele é mesmo o meu padrinho. amém em russo?
os livros que me atravessaram até agora reencontrei com eles
em realidade eu só sei fazer uma correspondência entre uma coisa e outra
e ver
brilhar eu gosto das coisas que brilham e são quentes
gosto de ver e de olhar sem ver
aqui fica tão seco
os livros que atravessaram o Atlântico enviados pelo meu pai, os livros
livros que eu escolhi livros que eu roubei da minha estante de livros no embu
eu a cada dia mais gosto dos livros porque eu no começo não gostava deles
é preciso abrir os livros
e eu gosto de pessoas e de música
que vem até mim, os livros não chegam a tanto sem meu impulso
e meus impulsos são corriqueiros
eu gostava de escrever porque era o que me acontecia porque alguma coisa pra contar ou simplesmente dançar porque escrever é perder toda a atenção e esquecer o rosto em cima de alguma coisa que é uma chama
e eu nunca nem pensava que isso um dia daria em um livro e que depois eu ia querer fazer outro livro
(fase em que agora me encontro_ _ as moedas também estão ali nessa fase pra correrem esse risco de serem minhas até que eu precise tanto delas que darei a outro, em troca)
mas tudo isso porque eu quero dizer, eu quero dizer, eu quero dizer
que os livros atravessaram do Brasil pra cá durante um mês e ainda assim chegaram úmidos por dentro, da carne do meio das páginas, os livros que estavam úmidos será que é essa a hora de com algodão secá-los da úmida solidão do que está escrito mas, veja bem, eu vejo.
eu que já disse que gosto de ver senti o cheiro da umidade brasileira e, digo mais, tenho alergia
faz uma semana que leio, leio, leio. pra depois escrever, escrever. entendi muita coisa essa semana. entendi, por exemplo, a importância da transmissão. também porque esquentou maravilhosamente esquentou. e eu fiquei feliz. eu fiquei tão feliz esses últimos dias com a vida mesmo e só.
depois pensei que me aconteceram umas coisas maravilhosas nos últimos dias.
e de repente me deu um medo e medo é vontade de poupar tudo.
(não estou poupando nada a não ser umas gorduras)
(enquanto isso a música alta, percebo, 0h00 em Portugal)
(27, 28 graus)
(em Portugal, Portugal não rima com grau)
(nossa língua desigual)
(esses últimos dias fiquei sem falar com ninguém vou no parque deito e tenho certeza que estão falando flamengo, esfrego os ouvidos e é português. depois é flamengo de novo. e às vezes é mesmo, flamengo, tcheco, russo, alemão. então todos estão falando português de Portugal.)
(acho que esse verão viro basco, baco, basquiat)
e o Leon K. escreve contra a "comunicação preservativa". eu acho que ele é mesmo o meu padrinho. amém em russo?
segunda-feira, 17 de maio de 2010
"a pior crise desde a 2a guerra mundial"
sonhei que o Algarve era bombardeado por Israel. eu e o Bernardo, a gente assistia na televisão. eram os algarvios que tinham começado. e os israelenses eram cruéis. as coisas voavam pelos ares em terracota e amarelo. comíamos milho em lata esperando o melhor.
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caderno público de sonhos
domingo, 16 de maio de 2010
armário e jardim
ontem estava no banco de trás do carro do meu pai e ele me pedia pra descer no mercadinho - - - o antigo kira onde duda e eu esperávamos que nos pegassem da escola (os espaços mudam de rota) - - - e comprar uma camiseta pra ele cuidar do jardim.
e hoje eu descia a escada e encontrava com a minha mãe, que abria as portas de todos os armários da cozinha da casa em que cresci e, furiosa, lançava os tuppewares e suas tampas para os ares.
e hoje eu descia a escada e encontrava com a minha mãe, que abria as portas de todos os armários da cozinha da casa em que cresci e, furiosa, lançava os tuppewares e suas tampas para os ares.
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caderno público de sonhos
sábado, 15 de maio de 2010
talvez os olhos marujos mais foscos
esquecer é sempre começar. entre os movimentos, o salto. você já reparou que ainda sou o novo (na sua vida)? força marítima.
ou querer escrever sobre algo. herberto helder. impressão de silêncio intransponível, casamento de si consigo, agitação de fundo, desnível e fábula.
ou querer escrever sobre algo. herberto helder. impressão de silêncio intransponível, casamento de si consigo, agitação de fundo, desnível e fábula.
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sweet comic valentine
sexta-feira, 14 de maio de 2010
guardião
dormi imensamente, como desde ficar muito doente não fazia. eu costumava ficar muito doente uma vez por ano, nos últimos 5. quando era menor eram duas vezes por ano, talvez uma por semestre. mas então resolvi que não, virei uma pessoa forte como os dentes-de-leão que crescem no mato balançam com o vento, se assopram, ficam só o caule e desaparecem.
essa noite sonhei com estradas, caminhos, viagens. estava com um amigo que não vejo há muitos anos. quase não falávamos. havia um cachorro enorme, negro e babão que morava dentro do carro antigo de funeral que dirigiamos. a música era k7 e boa, cantávamos. era sempre sol que iluminava o asfalto ao ponto de brilhar também as mais amarelas das flores banais. era tudo um interior sem tamanho.
chegávamos numa cidade com casas todas brancas e nada acontecia. essa letargia do espaço era o maior prazer. ou como se a vida fosse pra sempre férias, verão, caminho e solução. prazer nas forças. acordei meio muda, como se as palavras se saltassem e eu ficasse olhando, feito botar sal na comida.
e depois fui no correio.
essa noite sonhei com estradas, caminhos, viagens. estava com um amigo que não vejo há muitos anos. quase não falávamos. havia um cachorro enorme, negro e babão que morava dentro do carro antigo de funeral que dirigiamos. a música era k7 e boa, cantávamos. era sempre sol que iluminava o asfalto ao ponto de brilhar também as mais amarelas das flores banais. era tudo um interior sem tamanho.
chegávamos numa cidade com casas todas brancas e nada acontecia. essa letargia do espaço era o maior prazer. ou como se a vida fosse pra sempre férias, verão, caminho e solução. prazer nas forças. acordei meio muda, como se as palavras se saltassem e eu ficasse olhando, feito botar sal na comida.
e depois fui no correio.
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domingo, 2 de maio de 2010
città piu bella
por que é tão comum pessoas inteligentes ficarem cínicas? é uma estratégia de defesa nefasta. procurei esses dias no dicionário essa última palavra e é como a vez que sonhei "gosta de trepar com lápides", mas piorado. mas é sério: inteligência é um muito de saber fazer baliza, contrabalancear, ver os lados das questões, bambolê, como o tal do pássaro voando por entre as árvores e que não bate com o bico em nenhuma delas. e descobre sempre um novo-mesmo caminho. mas um cínico assina: "dessa árvore conheço tanto que nem tocarei na casca." é um horror, porque fica uma gente inexperimentada. e fútil.
#
o breno pediu pra eu não antecipar mais os poemas do novo livro no blogue!... e ele tem razão. o breno é muito meu amigo.
mas verso pode antecipar?
"descalcificar a cidade"
ainda não sei onde vou usar. mas percebi que minha noção da relação cidade-claustrofobia mudou completamente desde que vivo em Lisboa. sinto isso aqui, sim, também sentia (mais) em São Paulo. mas: veja bem: em São Paulo era rangente e urgente berrar contra contra. é uma cidade em ebulição que te ferve junto a mão. aqui tá tudo mais arruinado, mas é bonito e mais pacífico. tem uma música do Deolinda que ela canta
que a saudade
mais que um crime
é um castigo
e prisão por prisão
temos Lisboa
.
é por aí, até quando, não sei.
mas eu acho que meu verso ainda não usado tem mais haver é com isso aqui:
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o breno pediu pra eu não antecipar mais os poemas do novo livro no blogue!... e ele tem razão. o breno é muito meu amigo.
mas verso pode antecipar?
"descalcificar a cidade"
ainda não sei onde vou usar. mas percebi que minha noção da relação cidade-claustrofobia mudou completamente desde que vivo em Lisboa. sinto isso aqui, sim, também sentia (mais) em São Paulo. mas: veja bem: em São Paulo era rangente e urgente berrar contra contra. é uma cidade em ebulição que te ferve junto a mão. aqui tá tudo mais arruinado, mas é bonito e mais pacífico. tem uma música do Deolinda que ela canta
que a saudade
mais que um crime
é um castigo
e prisão por prisão
temos Lisboa
.
é por aí, até quando, não sei.
mas eu acho que meu verso ainda não usado tem mais haver é com isso aqui:
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no mais, voltando ao cinismo, lembrei da personagem da psiquiatra no Persona que diz para a atriz interpretada pela Liv Ullmann e sua crise de silêncio, que na vida não há separação entre parecer/encenação e ser/realização.
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e uma frase do Deleuze, diz algo como que a potência da modernidade é a produção de simulacros.
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