sábado, 27 de julho de 2013

notas de viagem (3)

primeira noite na tenda a chuva torrencial entre carvalhos. já me adaptei a certos vocabulários e nos dias anteriores a cada cachoeira me pegava cantando "eu sou memória das águas".

devia ser seis da manhã quando senti uma bolha na omoplata direita. não poderia ser, mas eram meus ombros nivelados por uma poça embaixo. atravessou a lona, o saco de dormir, me tornou os pulmões um precipício.

tive pneumonia uma vez por estar com a vida toda fudida e numa noite de frio ter fumado tudo e deitado com as costas no chão pra ver o céu da praça do relógio com a Mari.

lembrei disso & chorei miúdo.

*

só pode ser domingo, é isso.
me impressionava no primeiro livro de poemas que li a quantidade de vezes que "domingo" era referido. logo a poesia me mostrou que podia tourear o tédio, nosso imenso companheiro.

o livro era o "alguma poesia".

*

estou rodeada de antepassados aqui, os carvalhos. e everything inside is made of stone.

domingo e água.
domingo é água.

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