cinco anos atrás escrevi uma autobiografia, tinha 1 linha, inspirada no elvis, "i'm a solid volcano". era plutão. repensei a minha geologia e reescrevi esses dias tais linhas: "eu? uma fronteira. e muitos canais. todos analógicos.".
terça-feira, 21 de abril de 2015
segunda-feira, 20 de abril de 2015
hoje
o correio tocou uma vez era de manhã chegou chá de alfazema e mel de flor de laranjeira.
voltou o carteiro meia hora depois, "júlia! tô esquecido!", de uma caixa com tabaco, água florida, palo santo e cânfora.
atendi o interfone e eu falava e de resposta só ouvia "eight days a week" tocando do outro lado.
mais tarde cheirava a erva.
outrossim, tocou 1 entregador com minha mochila.
quase fim do dia um dos livros que mais gostei de ler quando adolescente me foi entregue.
ao entardecer veio nos ver meu amigo poeta.
se o sol não entrou em touro hoje não sei o que aconteceu.
voltou o carteiro meia hora depois, "júlia! tô esquecido!", de uma caixa com tabaco, água florida, palo santo e cânfora.
atendi o interfone e eu falava e de resposta só ouvia "eight days a week" tocando do outro lado.
mais tarde cheirava a erva.
outrossim, tocou 1 entregador com minha mochila.
quase fim do dia um dos livros que mais gostei de ler quando adolescente me foi entregue.
ao entardecer veio nos ver meu amigo poeta.
se o sol não entrou em touro hoje não sei o que aconteceu.
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agora que sou sincera
é tudo como calha
existe uma situação ideal e difícil, de liberdade maravilhosa na vida contemporânea, que é a de não ter nenhum email na caixa de entrada por responder.
diariamente me prometo que chegarei lá, diariamente eu falho.
afinal, é como podar para crescer, quanto mais respondo, mais tenho o que responder e falharei cotidianamente na minha meta e nunca vou me aprimorar.
o bom é que o falhanço já me ensinou a não esperar dos outros o que não consigo de mim e nunca sinto alguém em falta, pelo contrário, sempre espero com os melhores sorrisos nos dentes as respostas. as respostas são como as surpresas: chegam quando convém.
diariamente me prometo que chegarei lá, diariamente eu falho.
afinal, é como podar para crescer, quanto mais respondo, mais tenho o que responder e falharei cotidianamente na minha meta e nunca vou me aprimorar.
o bom é que o falhanço já me ensinou a não esperar dos outros o que não consigo de mim e nunca sinto alguém em falta, pelo contrário, sempre espero com os melhores sorrisos nos dentes as respostas. as respostas são como as surpresas: chegam quando convém.
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agora que sou sincera
domingo, 19 de abril de 2015
terça-feira, 14 de abril de 2015
chegada
como não há metrô que ligue o aeroporto até a cidade, descemos do ônibus na paulista. com duas malas e uma máquina de escrever, preferi pegar um táxi até minha casa. tinha que consegui-lo antes do túnel da dr. arnaldo, pra que não existisse uma imensa volta no taxímetro, e carregada fui andando, cansada, até um lugar em que fosse suficiente.
nenhum táxi passava, ou passava cheio, ou não me via atrás da banca e não parava. um morador de rua me viu naquela situação e gritou, com um sorriso gigantesco, "moça! senhora! vou conseguir um táxi pra você!" e saiu correndo, descalça, até a esquina com a augusta. quase dois metros de homem, ele brilhava dourado, como se tivesse mergulhado em purpurina, vestindo uma camiseta rota de atendente do mc donald's, pelo meio da avenida, pisando firme no asfalto.
afinal, ele conseguiu um táxi, parou, apontou pra mim, enquanto alguém descia do táxi. o homem veio gritando de felicidade, "consegui! consegui! sozinha a sra. não conseguiria", se sentou na minha frente, e já sentado, em lótus, muito gentilmente me disse "a sra. poderia me dar um trocado? preciso comprar uma roupa".
então me lembrei que fazia pouco tinha dito pro mateus que gostava de usar a camisa que era do gustavo porque me lembrava do meu pai, que sempre tem tudo que precisa nos bolsos da camisa. juntei a isso a firmeza da lembrança de contar, algumas vezes, que quando pedem dinheiro pro meu pai, ele tira sem olhar a primeira nota do bolso, sem cálculo, e dá. lembrei de dizer pro reuben "espero 1 dia conseguir fazer o mesmo", e entre tantas lembranças simplesmente agi, tirei sem ver uma nota de 20 reais do bolso e dei pro homem que tinha me ajudado. o taxista já parado guardava a minha mala e olhava com uma cara de não entendimento.
o homem sorriu, ficou um pouco encabulado, foi aí que notei que ele tremia todo suando alguma droga muito forte dentro do corpo. e todo dourado. então ele riu e me disse:
— a senhora é jornalista, não é? — e eu:
— por conta dessa máquina de escrever? não! não sou jornalista, mas é quase isso... eu escrevo.
— a sra. acabou de chegar de outro estado, não é?
— sim! isso sim!
— então seja bem-vinda à são paulo! — e fez uma vênia apontando pro chão.
— ah! te agradeço!
— já sei! já sei! a sra. é publicitária!!!!
— hahahahaha não!!!!! isso não! nem jornalista! nem publicitária! eu sou poeta!
— poeta?! eu amo poesia! foi por isso então que a sra. me deu tanto dinheiro. poeta não guarda nada! poeta não guarda nada! — e ria enlouquecido — qual o nome da sra? vou comprar seu livro!
— meu nome é júlia hansen, mas não gaste dinheiro com meu livro não! dia desses a gente se encontra por acaso de novo e eu te dou.
ele sorriu, e nisso o táxi arrancou. o rapaz dirigindo tinha a minha idade, disse:
— o negão tava doidão né? mas ele era do bem.
— era sim do bem. tem muito doidão do bem.
— é... a gente esquece.
já pra frente no percurso, achando graça no que tinha acontecido, me sentindo bem de chegar em casa, vi um carro da polícia atravancando o trânsito por simples displicência de acharem que são donos da rua, da lei, da morte, do que quiserem ser... reclamei baixo, mas com confiança. toda a simpatia do taxista, naquele momento, recuou. percebi pelo retrovisor que ele estava entre incomodado e furioso. e, claramente, do lado da polícia. estremeci, fiquei sem saber o que fazer.
quando me deixou em casa, o taxista me cobrou mais do que tinha sido, e ainda usou como argumento "gorjeta". claramente calculando o meu gesto porque tinha me visto dar uma nota alta para o acaso do amigo que no meio da rua tinha sacado tudo e pra quem qualquer centavo faria diferença. achou que eu, poeta, sou rica. logo então eu disse:
— gorjeta costuma ser um ato de gentileza, não de dívida. mas se você quer me tirar a minha escolha, fique à vontade, o troco é seu.
preocupada e contente, entrei na casa, nesse tempo nosso. às vezes me parece que a humildade e a generosidade estão do mesmo lado versus a dívida e a polícia de outro. e isso é em cada um, mesmo. um ato diário de posicionamento e escolha.
nenhum táxi passava, ou passava cheio, ou não me via atrás da banca e não parava. um morador de rua me viu naquela situação e gritou, com um sorriso gigantesco, "moça! senhora! vou conseguir um táxi pra você!" e saiu correndo, descalça, até a esquina com a augusta. quase dois metros de homem, ele brilhava dourado, como se tivesse mergulhado em purpurina, vestindo uma camiseta rota de atendente do mc donald's, pelo meio da avenida, pisando firme no asfalto.
afinal, ele conseguiu um táxi, parou, apontou pra mim, enquanto alguém descia do táxi. o homem veio gritando de felicidade, "consegui! consegui! sozinha a sra. não conseguiria", se sentou na minha frente, e já sentado, em lótus, muito gentilmente me disse "a sra. poderia me dar um trocado? preciso comprar uma roupa".
então me lembrei que fazia pouco tinha dito pro mateus que gostava de usar a camisa que era do gustavo porque me lembrava do meu pai, que sempre tem tudo que precisa nos bolsos da camisa. juntei a isso a firmeza da lembrança de contar, algumas vezes, que quando pedem dinheiro pro meu pai, ele tira sem olhar a primeira nota do bolso, sem cálculo, e dá. lembrei de dizer pro reuben "espero 1 dia conseguir fazer o mesmo", e entre tantas lembranças simplesmente agi, tirei sem ver uma nota de 20 reais do bolso e dei pro homem que tinha me ajudado. o taxista já parado guardava a minha mala e olhava com uma cara de não entendimento.
o homem sorriu, ficou um pouco encabulado, foi aí que notei que ele tremia todo suando alguma droga muito forte dentro do corpo. e todo dourado. então ele riu e me disse:
— a senhora é jornalista, não é? — e eu:
— por conta dessa máquina de escrever? não! não sou jornalista, mas é quase isso... eu escrevo.
— a sra. acabou de chegar de outro estado, não é?
— sim! isso sim!
— então seja bem-vinda à são paulo! — e fez uma vênia apontando pro chão.
— ah! te agradeço!
— já sei! já sei! a sra. é publicitária!!!!
— hahahahaha não!!!!! isso não! nem jornalista! nem publicitária! eu sou poeta!
— poeta?! eu amo poesia! foi por isso então que a sra. me deu tanto dinheiro. poeta não guarda nada! poeta não guarda nada! — e ria enlouquecido — qual o nome da sra? vou comprar seu livro!
— meu nome é júlia hansen, mas não gaste dinheiro com meu livro não! dia desses a gente se encontra por acaso de novo e eu te dou.
ele sorriu, e nisso o táxi arrancou. o rapaz dirigindo tinha a minha idade, disse:
— o negão tava doidão né? mas ele era do bem.
— era sim do bem. tem muito doidão do bem.
— é... a gente esquece.
já pra frente no percurso, achando graça no que tinha acontecido, me sentindo bem de chegar em casa, vi um carro da polícia atravancando o trânsito por simples displicência de acharem que são donos da rua, da lei, da morte, do que quiserem ser... reclamei baixo, mas com confiança. toda a simpatia do taxista, naquele momento, recuou. percebi pelo retrovisor que ele estava entre incomodado e furioso. e, claramente, do lado da polícia. estremeci, fiquei sem saber o que fazer.
quando me deixou em casa, o taxista me cobrou mais do que tinha sido, e ainda usou como argumento "gorjeta". claramente calculando o meu gesto porque tinha me visto dar uma nota alta para o acaso do amigo que no meio da rua tinha sacado tudo e pra quem qualquer centavo faria diferença. achou que eu, poeta, sou rica. logo então eu disse:
— gorjeta costuma ser um ato de gentileza, não de dívida. mas se você quer me tirar a minha escolha, fique à vontade, o troco é seu.
preocupada e contente, entrei na casa, nesse tempo nosso. às vezes me parece que a humildade e a generosidade estão do mesmo lado versus a dívida e a polícia de outro. e isso é em cada um, mesmo. um ato diário de posicionamento e escolha.
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segunda-feira, 13 de abril de 2015
sempre que eu sinto muita saudade de São Paulo, é inevitável a entrada pela marginal
daí na marginal eu sofro um choque de realidade tão radical que nem é explicável. a podridão do rio me dá vergonha e tristeza e indignação e cansaço e eu juro mil vezes que a saudade não tem nada a ver com aquilo
daí me lembro de uma vida toda que poderia ter sido e que não foi. suspiro distraio e reparo no matagal nas ilhas entre as ruas. nunca vi numa cidade matagais tão generosos como os que crescem ao redor da marginal Tietê. dou um sorriso pela civilização, um abraço imaginário no matagal.
olho as nuvens, não chove nem faz sol. essa umidade de abril, essa nuvem empoeirada de fumo, ninguém te tira, minha cidade.
daí na marginal eu sofro um choque de realidade tão radical que nem é explicável. a podridão do rio me dá vergonha e tristeza e indignação e cansaço e eu juro mil vezes que a saudade não tem nada a ver com aquilo
daí me lembro de uma vida toda que poderia ter sido e que não foi. suspiro distraio e reparo no matagal nas ilhas entre as ruas. nunca vi numa cidade matagais tão generosos como os que crescem ao redor da marginal Tietê. dou um sorriso pela civilização, um abraço imaginário no matagal.
olho as nuvens, não chove nem faz sol. essa umidade de abril, essa nuvem empoeirada de fumo, ninguém te tira, minha cidade.
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domingo, 5 de abril de 2015
marte nos primeiros graus de touro ativa em mim
líquidos acumulam entre órgãos e músculos
na carne mútua de tudo, dissipo
a fissura das questões ponho
guardas na fronteira que sana.
encarno e desmonto e hoje não
menstruo e nem agrido ninguém.
sou tanto não, tanto que sucede
desmonto com foco, aproveito
o domingo de páscoa torcendo
pra deusa q renasça em mim
observar a guerra com dureza
ceder o controle à ternura
vir pelo campo até dar
nas margens do pântano carpir
água. alimento de aceitação.
na carne mútua de tudo, dissipo
a fissura das questões ponho
guardas na fronteira que sana.
encarno e desmonto e hoje não
menstruo e nem agrido ninguém.
sou tanto não, tanto que sucede
desmonto com foco, aproveito
o domingo de páscoa torcendo
pra deusa q renasça em mim
observar a guerra com dureza
ceder o controle à ternura
vir pelo campo até dar
nas margens do pântano carpir
água. alimento de aceitação.
sexta-feira, 3 de abril de 2015
toda vez que um poeta
toda vez que um poeta encontra uma fórmula e só a repete
toda vez que um poeta não perfura os caminhos da já-língua
toda vez que um poeta diz aquilo que se espera dele
toda vez que um poeta não alarga nem cria distúrbio no que as instituições lhe pedem
toda vez que um poeta acredita no jornal que lhe espanca a escrita
toda vez que um poeta sorri direito, strike a pose, alinha o cabelo
toda vez que um poeta
esquece aquele que nunca foi
toda vez que um poeta se conforma com o morto no colo
toda vez morre um pássaro acabado de nascer, cai do ninho, sem acolhimento, no asfalto.
toda vez que um poeta não perfura os caminhos da já-língua
toda vez que um poeta diz aquilo que se espera dele
toda vez que um poeta não alarga nem cria distúrbio no que as instituições lhe pedem
toda vez que um poeta acredita no jornal que lhe espanca a escrita
toda vez que um poeta sorri direito, strike a pose, alinha o cabelo
toda vez que um poeta
esquece aquele que nunca foi
toda vez que um poeta se conforma com o morto no colo
toda vez morre um pássaro acabado de nascer, cai do ninho, sem acolhimento, no asfalto.
31 anos
mergulhar no diverso respirando firme
entre as camadas
abarcar a névoa e o clarão.
despertar atenção para tudo relaxar
podar o capim para que ele cresça firme
flexível e reto como o mato
ter dado espaço para o outro entrar e entrar nele todo
não esquecer nada disso
mas nunca lembrar de nada
pois não há monotema nenhum
girando desconforme a galáxia
nem trilhos onde encaixar roldanas, mergulhar
mergulhar até soltar a mandíbula
inflamando o peso caindo, a inflação subindo.
há paciência e é agora
de pé no chão.
entre as camadas
abarcar a névoa e o clarão.
despertar atenção para tudo relaxar
podar o capim para que ele cresça firme
flexível e reto como o mato
ter dado espaço para o outro entrar e entrar nele todo
não esquecer nada disso
mas nunca lembrar de nada
pois não há monotema nenhum
girando desconforme a galáxia
nem trilhos onde encaixar roldanas, mergulhar
mergulhar até soltar a mandíbula
inflamando o peso caindo, a inflação subindo.
há paciência e é agora
de pé no chão.
quinta-feira, 2 de abril de 2015
tem
disritmia entre braço e perna a canela bamba sobre a pedra
quase tropecei pra trás
o que significa que não havia frente para me agarrar
cansada demais em ser sutil sem fluxo de queda
além da saúde frágil, os gestos fartos
s e m p r e
ouvidos dispositivos do abrir-se
ao caos dos poros — todos sensíveis
e as ranhuras de coisas que entram por baixo das unhas
ensinam a gemer por pouco e arder por mais
ser como o mar que retrocede
e nunca perde o horizonte, verás
o salto de quem nasce
a face de quem morre
a faísca que se apaga
o morro que se sobe
o amor de quem o tem
o escuro tem também.
quase tropecei pra trás
o que significa que não havia frente para me agarrar
cansada demais em ser sutil sem fluxo de queda
além da saúde frágil, os gestos fartos
s e m p r e
ouvidos dispositivos do abrir-se
ao caos dos poros — todos sensíveis
e as ranhuras de coisas que entram por baixo das unhas
ensinam a gemer por pouco e arder por mais
ser como o mar que retrocede
e nunca perde o horizonte, verás
o salto de quem nasce
a face de quem morre
a faísca que se apaga
o morro que se sobe
o amor de quem o tem
o escuro tem também.
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