terça-feira, 31 de maio de 2011
continuo, voltei a pensar: é que se as coisas que aconteceram antes em vez de estarem se repetindo no agora, se elas na verdade se repetiram foi no passado pra agora acontecerem originariamente? ou ser possível uma origem que vem do futuro? isto é, se o que acontece agora justifica o que vivemos antes?
tô com afta
impressionante ainda a música - ou para sempre - como uma espécie de droga (as drogas que dão re-start) emocional correnteza do limpo, que às vezes é pelo turvo que se acede.
(a poesia como acesso)
(a música como percurso)
.
ontem, antes de ontem, andamos a cidade toda. a cidade toda era indefensável. eu me precipitei em aceitá-la. agora já não sei mais mito de mim, Lisboa, por onde iremos adiante? quanto tempo mais dura o sol? estou sempre no depois, preocupada com o depois. vocês sabiam que eu ando estudando o futuro?
(acabei de notar que talvez seja isso, o futuro, isto aqui)
(mamãe me mandou não comer pepinos espanhóis) (nunca mais)
eu tenho um jeito de quem não se espanta braço de ouro vale dez milhoes eu tenho corações fora do peito mamãe não chore não tem jeito.
pra onde vou na minha língua, estrangeira?
domingo, 29 de maio de 2011
tenho uma nova amiga
A BOCA
em espessura do tempo feito infindo
em amor me feria dilatava
a boca era um leito um órgão de lava
#
O POEMA ENSINA A CAIR
O poema ensina a cair
sobre os vários solos
desde perder o chão repentino sob os pés
como se perde os sentidos numa
queda de amor, ao encontro
do cabo onde a terra abate e
a fecunda ausência excede
até à queda vinda
da lenta volúpia de cair,
quando a face atinge o solo
numa curva delgada subtil
uma vénia a ninguém de especial
ou especialmente a nós uma homenagem
póstuma.
[Luiza Neto Jorge]
em espessura do tempo feito infindo
em amor me feria dilatava
a boca era um leito um órgão de lava
#
O POEMA ENSINA A CAIR
O poema ensina a cair
sobre os vários solos
desde perder o chão repentino sob os pés
como se perde os sentidos numa
queda de amor, ao encontro
do cabo onde a terra abate e
a fecunda ausência excede
até à queda vinda
da lenta volúpia de cair,
quando a face atinge o solo
numa curva delgada subtil
uma vénia a ninguém de especial
ou especialmente a nós uma homenagem
póstuma.
[Luiza Neto Jorge]
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amigos amigos negócios reparte
sexta-feira, 27 de maio de 2011
corte
"você não sabia que dá azar comparar as mãos?"
do persona
eu tenho um corpogrande e desimpedido
é nele impossível
habitar um só
roubo de quem passa
um mistério, todas as composições do amor
e o encontro
(estou impressionada com
as capacidades do meu
pescoço tentando falar
a um outro: juventude
precariedade
amor.
não te esqueças nunca.)
o cheiro de cebola nas mãos
não explica porque há meses
não choro
(sou incapaz de fazer o necessário).
e como um resto de unha
não respeito o apêndice
(quero colocar tudo no corpo)
estou colocada
na lembrança
do nada.
o espetáculo do múltiplo
eu ontem (e antes de ontem também, tem me acontecido
assistir o espetáculo)
salvei uma planta da secura dos homens
então sonhei que havia
um vaso de musgo morto
eu enchia de água o redondo
até multiplicar
as plantas em evolução despoletavam
cresciam cresciam cresciam
era noite (e agora é dia e o navio que vem pelo Tejo apita)
e o vazio do vaso inchava e o musgo
fluorescente inflava até virar ninféias.
assistir o espetáculo)
salvei uma planta da secura dos homens
então sonhei que havia
um vaso de musgo morto
eu enchia de água o redondo
até multiplicar
as plantas em evolução despoletavam
cresciam cresciam cresciam
era noite (e agora é dia e o navio que vem pelo Tejo apita)
e o vazio do vaso inchava e o musgo
fluorescente inflava até virar ninféias.
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caderno público de sonhos
quarta-feira, 25 de maio de 2011
sábado, 21 de maio de 2011
terça-feira, 17 de maio de 2011
galope
acordo em estado de dicionário
sei que enquanto não escrever meus ombros continuarão como as lombadas duras das capas
definitivamente é hora de acordar e meus olhos se despreendem de alegria quando sacudo os pés pra um lado e outro, ainda no colchão - os olhos despreendem das órbitas e começam a me olhar
depois do café chego na pia da casa de banho e tenho que lavar os dentes
a escova escova a pasta quase acabando da próxima vez colgate não, couto
couto é portuguesa. tiro todo o açúcar do café depois do pequeno almoço
para as cáries não corroerem todos os meus dentes
não que eu não tenha amor pelas coisas que vivem
não que a putrefação não seja uma forma, tão pouco sutil forma, de vida
não que eu ache que seja capaz de conter o destino das coisas, dos meus dentes
mas definitivamente meus poemas mentais são melhores do que os escritos
o que provocará certamente em quem lê uma vontade de estar por dentro
do meu corpo das minhas órbitas dos meus pés
coisa que eu até que gostaria, por não ter onde ser colocada na minha retirada de dentro para a sua entrada,
eu teria definitivamente como aquele cavalo que saiu da aldeia, definitivamente eu teria fugido.
sei que enquanto não escrever meus ombros continuarão como as lombadas duras das capas
definitivamente é hora de acordar e meus olhos se despreendem de alegria quando sacudo os pés pra um lado e outro, ainda no colchão - os olhos despreendem das órbitas e começam a me olhar
depois do café chego na pia da casa de banho e tenho que lavar os dentes
a escova escova a pasta quase acabando da próxima vez colgate não, couto
couto é portuguesa. tiro todo o açúcar do café depois do pequeno almoço
para as cáries não corroerem todos os meus dentes
não que eu não tenha amor pelas coisas que vivem
não que a putrefação não seja uma forma, tão pouco sutil forma, de vida
não que eu ache que seja capaz de conter o destino das coisas, dos meus dentes
mas definitivamente meus poemas mentais são melhores do que os escritos
o que provocará certamente em quem lê uma vontade de estar por dentro
do meu corpo das minhas órbitas dos meus pés
coisa que eu até que gostaria, por não ter onde ser colocada na minha retirada de dentro para a sua entrada,
eu teria definitivamente como aquele cavalo que saiu da aldeia, definitivamente eu teria fugido.
domingo, 15 de maio de 2011
te vira
me dizem umas coisas cada coisa que me dizem e eu ficaria acobertada? VOU DIZER TAMBÉM VOU DIZER TAMBÉM daí desisto. sei que falta muito pouco pra hora de dizer, calando também dilacero teus olhos, meu bem. o silêncio dos escritores, imagina você se todos os escritores fizessem silêncio ao mesmo tempo? se todos os escritores fizessem silêncio primeiro em uma sala, depois fizessem silêncio em todas as salas do mundo, e também! ah também definitivamente à céu aberto o silêncio dos escritores atinge a lua, meu bem, teu coração tão sozinho para enfrentar o sempre.
eu não sei se o que trago no peito é ciúme despeito amizade ou horror
sonhei com você, amiga rara, antiga e desaparecida. não sei o que fazer. do sonho não me lembro. sei que a Flora também aparecia nele. a Flora.
essa era a Flora quando ela era titica. nós também estamos separadas.
e percebi que acho que essa angústia toda não é amor, nem trabalho. é saudade.
sábado, 14 de maio de 2011
Portugal
eu e carol estamos escrevendo um guião de cinema (que não é guião, são uma série de placas-cartazes que são cenas com acontecimentos e lista de materiais para as produções) que tem que estar pronto até 2a feira. que é o que nos diz a realizadora. na penúltima vez que vi a realizadora ela estava vestida inteira de azul e parecia que eu queria guardar num potinho, a geléia de carinho. eu e a carol temos uma reunião pra definir o guião de cinema hoje. hoje é sábado (dia 14 de maio. como vocês podem ver na data abaixo. é escrito isso aqui nesse momento mesmo. essas ferramentas de publicação nas mãos de alguém como eu nesses dias de hoje.
"nesses dias de hoje" é uma expressão preguiçosa, não é?). trabalhar no sábado é uma Lisboa de imensa primavera. amanhã temos a reunião de finalização do story line com realizadores e convidados, será num churrasco de sardinha com banho de mangueira.
"nesses dias de hoje" é uma expressão preguiçosa, não é?). trabalhar no sábado é uma Lisboa de imensa primavera. amanhã temos a reunião de finalização do story line com realizadores e convidados, será num churrasco de sardinha com banho de mangueira.
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mme. olga
sexta-feira, 13 de maio de 2011
o amor é pelo mundo em suas formas mais literais
se a vida continuar se vivendo pelo acaso dentro de poucos anos serei especialista em questões do futuro,
saberei como resolvê-las assim: equação de amor x solicitação de si = futuro; ou o resultado desse viaduto foi aquela viagem.
vou virar especialista em viagem, é. é isso.
saberei como resolvê-las assim: equação de amor x solicitação de si = futuro; ou o resultado desse viaduto foi aquela viagem.
vou virar especialista em viagem, é. é isso.
bojador
olha o sol, amuado vai chover
internet e a publicação ansiotória. PUBLICAMOS DEMAIS vocês não acham?
currículo, currículo e biografia. sem isso a gente não circula?
ok.
vocês não acham que publicamos demais?
ok
Imitamos na frente da loja os gatos japoneses da sorte
mexendo meus bracinhos muito. Sorte haverá?
O amor é pelo mundo em suas formas mais literais.
internet e a publicação ansiotória. PUBLICAMOS DEMAIS vocês não acham?
currículo, currículo e biografia. sem isso a gente não circula?
ok.
vocês não acham que publicamos demais?
ok
Imitamos na frente da loja os gatos japoneses da sorte
mexendo meus bracinhos muito. Sorte haverá?
O amor é pelo mundo em suas formas mais literais.
quarta-feira, 11 de maio de 2011
ainda não acabou
uma idéia de bamba bamba bamba
passou correndo sem tênis a idéia que eu fiz
era uma idéia-relâmpago, idéia-rasgante
(embora "rasgante" esteja em baixa nos tempos de hoje)
pego as folhas todas de uma vez e nhac! como um animal a comesse
todos os papéis voados por cima do lixo em pedaços
palavras pra um lado, palavras pro outro, todas as palavras estão acirradas
querendo fazer parte uma das outras
é o bacanal do papel: a idéia que eu fiz de você.
(ainda não acabou)
vem a chuva e molha nosso amor de idéias
(amor? desejo.)
e eu lá sei desejar sem amor amar sem desejo?
(certas coisas, júlia hansen, precisavam recomeçar)
quando estava em sp da última vez deitada em uns colchonetes com 5 amigos
mas era tudo legalizado naquele salão
eu disse assim: CABE. cobertura! quero dizer: eu disse pro meu melhor amigo naquele colchão
(e das pessoas que eu mais gosto no mundo)
"acho que estou numa fase completamente nova na minha vida"
(ou o que conversamos tanto, eu e a minha amiga artista, Serei eu o último dos modernos?)
essa ânsia é uma ânsia? de que o mundo não cesse de recomeçar a cada instante, pra que possa, finalmente acabar e em um lugar pacífico estaremos ultra-, mega-, radicais em paz.
eu comecei aqui pra dizer qualquer coisa, consegui. é manhã, Lisboa, dormi 6 horas de ontem pra hoje e meu nariz escorre, como sempre acontece de manhã, como acontece ainda mais se durmo pouco e algo na minha garganta é pura secura. no mais: meu braço direito está exausto. e eu não paro com ele de datilografar. um dia meu braço direito SALTA PRA FRENTE E INVENTA UM CÉREBRO SÓ PRA SI.
enquanto isso não acontece, vou ali, me alongar e ler Ezra Pound.
(ui ui. irreconheço.)
terça-feira, 10 de maio de 2011
ficar no meu corpo feito tatuagem
sonhei que eu sentava pra fazer uma nova tatuagem, tinha umas 40 idéias, estava com o duda, no estúdio do tinico. pedi pra ele a opinião, podia ser:
um passarinho sozinho de asas fechadas
uma rolha de vinho sem uso
um casal abraçado sem as silhuetas
[tinha mais umas cinco possibilidades - - - ai o futuro. ai o futuro.]
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caderno público de sonhos
sábado, 7 de maio de 2011
do Poemacto, de Herberto Helder:
IV
As vacas dormem, as estrelas são truculentas,
a inteligência é cruel.
Eu abro para todo o lado dos campos.
vejo como estou minado por esse
puro movimento de inteligência.
Porque olho,
rodo nos gonzos como para a felicidade.
Mais levantadas são as arbitrárias ervas
do que as estrelas.
Tudo dorme nas vacas.
Oh violenta inteligência onde as coisas
levitam preciosamente!
O campo bate contra mim, no ar onde elas
dormem -
vacas truculentas, estrelas
apaziguadas estrelas - e a inteligência, afinal
selvajaria celeste sobre a minha respiração.
Eu penso mudar estes campos deitados, criar
um nome para as coisas.
Onde era estábulo, na doce morfologia,
fazer com que as estrelas mugissem e as poeiras
ressuscitassem.
Dizer: rebentem os taludes, enlouqueçam as vacas,
que a minha inteligência se torne pacífica.
Unir a ferocidade da noite ao inebriado
movimento da terra.
Posso mudar a arquitectura de uma palavra.
fazer explodir o descido coração das coisas.
Posso meter um nome na intimidade de uma coisa
e recomeçar o talento de existir.
Meto na palavra o coração carregado de uma coisa.
Eu posso modificar-me.
Ser mais alto do que a corrupção.
Campos abanados pelo silêncio.
Pessoa como eu
mergulhando no que é o obscuro
das vacas dormindo.
Estrelas giradas, de repente mortas
sobre mim.
Ah, penso alterar tudo,recuperar agora as colinas do mundo.
Falando de amor, eu falo
do génio destruidor.
Falo que é preciso
criar a velocidade das coisas.
Que é preciso caçar flores,
golpear estrelas,
meter o sono nas vacas, desentranhar-lhes
o sono,
dar o sono às estrelas.
Enlouquecer.
Que é preciso recriar o criar, meu Deus, ser truculento.
Ser simples e não o ser.
Abandonar os campos, rodopiar
a inteligência, a crueldade.
Abro a porta para não esquecer esta
absurda tarefa.
Esta tão particular
necessidade.
Porque agora deixei totalmente de ser puro.
Levanto-me para dar de comer quentes
estrelas às vacas.
Sou tão puro, meu Deus, tão truculento.
É preciso principiar.
Digo baixo o nome. Corto os pés das estrelas.
Deixá-las na sua seiva estremecente.
Digo baixo que é talento envenená-las.
Minha alegria furibunda é a pureza do mundo.
E é tão belo agarrar com os ossos
que há dentro das mãos
na ponta de um nome, e desdobrá-lo.
Arrancar essa alma apertada.
Porque eu sei o estilo de uma alma
precisamente original.
Corto as estrelas das vacas.
Trago candeias para os campos extraordinários.
Porque eu bato na porta com meu júbilo furioso.
O amor acumula-se.
É para dar o ardor em doce dissipação.
Deus não sabe e sorri, esmigalhado
contra o muro humano.
Respiro, respiro. As coisas respiram.
Esta oferta masculina vocifera na treva.
Criar é delicado.
Criar é uma grande brutalidade.
Porque eu sou feliz. Durmo
na obra.
Só eu sei que a loucura minou este ser
inexplicável
que me estende nas coisas.
A loucura entrou em cada osso
e os campos são o meu espelho.
Esta imagem perfeita arromba os espelhos.
Os nomes são loucos,
são verdadeiros.
IV
As vacas dormem, as estrelas são truculentas,
a inteligência é cruel.
Eu abro para todo o lado dos campos.
vejo como estou minado por esse
puro movimento de inteligência.
Porque olho,
rodo nos gonzos como para a felicidade.
Mais levantadas são as arbitrárias ervas
do que as estrelas.
Tudo dorme nas vacas.
Oh violenta inteligência onde as coisas
levitam preciosamente!
O campo bate contra mim, no ar onde elas
dormem -
vacas truculentas, estrelas
apaziguadas estrelas - e a inteligência, afinal
selvajaria celeste sobre a minha respiração.
Eu penso mudar estes campos deitados, criar
um nome para as coisas.
Onde era estábulo, na doce morfologia,
fazer com que as estrelas mugissem e as poeiras
ressuscitassem.
Dizer: rebentem os taludes, enlouqueçam as vacas,
que a minha inteligência se torne pacífica.
Unir a ferocidade da noite ao inebriado
movimento da terra.
Posso mudar a arquitectura de uma palavra.
fazer explodir o descido coração das coisas.
Posso meter um nome na intimidade de uma coisa
e recomeçar o talento de existir.
Meto na palavra o coração carregado de uma coisa.
Eu posso modificar-me.
Ser mais alto do que a corrupção.
Campos abanados pelo silêncio.
Pessoa como eu
mergulhando no que é o obscuro
das vacas dormindo.
Estrelas giradas, de repente mortas
sobre mim.
Ah, penso alterar tudo,recuperar agora as colinas do mundo.
Falando de amor, eu falo
do génio destruidor.
Falo que é preciso
criar a velocidade das coisas.
Que é preciso caçar flores,
golpear estrelas,
meter o sono nas vacas, desentranhar-lhes
o sono,
dar o sono às estrelas.
Enlouquecer.
Que é preciso recriar o criar, meu Deus, ser truculento.
Ser simples e não o ser.
Abandonar os campos, rodopiar
a inteligência, a crueldade.
Abro a porta para não esquecer esta
absurda tarefa.
Esta tão particular
necessidade.
Porque agora deixei totalmente de ser puro.
Levanto-me para dar de comer quentes
estrelas às vacas.
Sou tão puro, meu Deus, tão truculento.
É preciso principiar.
Digo baixo o nome. Corto os pés das estrelas.
Deixá-las na sua seiva estremecente.
Digo baixo que é talento envenená-las.
Minha alegria furibunda é a pureza do mundo.
E é tão belo agarrar com os ossos
que há dentro das mãos
na ponta de um nome, e desdobrá-lo.
Arrancar essa alma apertada.
Porque eu sei o estilo de uma alma
precisamente original.
Corto as estrelas das vacas.
Trago candeias para os campos extraordinários.
Porque eu bato na porta com meu júbilo furioso.
O amor acumula-se.
É para dar o ardor em doce dissipação.
Deus não sabe e sorri, esmigalhado
contra o muro humano.
Respiro, respiro. As coisas respiram.
Esta oferta masculina vocifera na treva.
Criar é delicado.
Criar é uma grande brutalidade.
Porque eu sou feliz. Durmo
na obra.
Só eu sei que a loucura minou este ser
inexplicável
que me estende nas coisas.
A loucura entrou em cada osso
e os campos são o meu espelho.
Esta imagem perfeita arromba os espelhos.
Os nomes são loucos,
são verdadeiros.
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amigos amigos negócios reparte
o meu novo túnel se chama "o mar que é menor". acho que estou ficando cada vez menos com medo de quem lê, isto é, estou cada vez mais incompreensível. é isto que admiro naqueles que leio, exceção do Drummond. mesmo ele, esse hermetismo sem dom para o hermético. que descubram! que não há segredo! e tudo é segredo!
e todos os meus textos são roubos, plágios.
neste caso michaux, calasso, deleuze, helder, tsvietaieva, os irmãos do deus que nele fala, assaltados pela solidão. a minha.
e todos os meus textos são roubos, plágios.
neste caso michaux, calasso, deleuze, helder, tsvietaieva, os irmãos do deus que nele fala, assaltados pela solidão. a minha.
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see also impermanence
and left her to the indifferent stars above
A Dream of Death
I dreamed that one had died in a strange place
Near no accustomed hand;
And they had nailed the boards above her face,
The peasants of that land,
Wondering to lay her in that solitude,
And raised above her mound
A cross they had made out of two bits of wood,
And planted cypress round;
And left her to the indifferent stars above
Until I carved these words:
She was more beautiful than thy first love,
But now lies under boards.
(W.B. Yeats)
Um Sonho com a Morte
Sonhei que alguém morrera num lugar desconhecido
Longe de mãos amigas;
E que eles, os camponeses daquela terra,
Ansiosos por nessa solidão a abandonarem,
Tinham pregado tábuas sobre o seu rosto
E erguido acima do túmulo
Uma cruz que construíram com dois pedaços de madeira
E plantado cipestres em redor;
E que a deixaram sob as estrelas indiferentes
Até eu gravar estas palavras:
Ela era mais bela do que o teu primeiro amor,
Mas agora jaz debaixo destas tábuas.
(tradução de Maria de Lourdes Guimarães e Laureano Silveira)
I dreamed that one had died in a strange place
Near no accustomed hand;
And they had nailed the boards above her face,
The peasants of that land,
Wondering to lay her in that solitude,
And raised above her mound
A cross they had made out of two bits of wood,
And planted cypress round;
And left her to the indifferent stars above
Until I carved these words:
She was more beautiful than thy first love,
But now lies under boards.
(W.B. Yeats)
Um Sonho com a Morte
Sonhei que alguém morrera num lugar desconhecido
Longe de mãos amigas;
E que eles, os camponeses daquela terra,
Ansiosos por nessa solidão a abandonarem,
Tinham pregado tábuas sobre o seu rosto
E erguido acima do túmulo
Uma cruz que construíram com dois pedaços de madeira
E plantado cipestres em redor;
E que a deixaram sob as estrelas indiferentes
Até eu gravar estas palavras:
Ela era mais bela do que o teu primeiro amor,
Mas agora jaz debaixo destas tábuas.
(tradução de Maria de Lourdes Guimarães e Laureano Silveira)
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amigos amigos negócios reparte
hands clean
sonhei que eu estava numa praia de rio, deitada numa canga sozinha. na canga ao lado estavam dois amigos que não se conhecem, mas no sonho eles eram namorados. ele tentava fazer cafuné em mim, era uma sedução a qual eu não reagia. eu gostava, mas me enchia, levantava e ia embora. na outra ponta do rio ela aparecia pra me tomar satisfações. ficávamos deitadas dentro da água nos olhando feito duas jibóias. ela entendia de repente que eu não tinha nada haver com aquilo.
teve um sonho também com um menino que eu adoro, mas desse não me lembro nada.
depois era no Rio de Janeiro que eu estava e precisava de uns meios de transporte absurdos pra ir embora pra São Paulo. tinha descoberto uma linha de metrô que me levaria. nada me acontecia, eu ficava sentada numa mesa de plástico de bar, escrevendo com meu caderno verde (que na prática eu detesto, acordada, parece uma árvore de natal com o elásticozinho vermelho junto e o papel finge que é bom pra na prática ser uma bosta que não absorve as canetas que eu gosto de usar. aliás, em três dias, três canetas minhas acabaram) a não ser um menino que sentava na minha frente e a gente flertava flertava até ele ir pegar um sorvete e nunca mais aparecer.
e ontem sonhei com um cara que nossa história foi a mais existente entre as inexistentes histórias, e que num concerto a gente se re-apaixonava. tudo porque eu sabia lidar com ele dessa vez.
agora, tudo que eu ando sem paixão acordada tenho sonhado dormindo?
o amor o amor que não me abandona. ainda bem.
ainda bem. amor amor amor. amor? desejo.
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sexta-feira, 6 de maio de 2011
roupa colorida
[acordei pensando na necessidade de escrever isto, que eu disse ontem pro B na longa sessão poética que tivemos na cozinha]
o meu avô, pai do meu pai, era muitas coisas. entre elas um homem muito generoso, que dava pros vizinhos longos metros de tecido (da indústria em que ele trabalhava), garrafas de whisky que ele ganhava de um amigo que vivia em SP, peixes e mais peixes que ele pescava quando se isolava por semanas, ou carnes e mais carnes que ele tinha caçado no Pantanal. meu pai conta que ele voltava com uma caçamba cheia, dava mais da metade, dois terços, ficava com o resto. conhecia as ervas do mato, sabia o que curava, o que sarava, o que protegia. todas as vezes que ouço falar dele me parece que ele era alegre, generoso, lúcido, vivo e contraditório (todos os mortos são contraditórios?).
[agora havia aqui uma 2a parte do texto, falando sobre meu pai. que a dedicatória de um dos livros do meu pai, talvez do livro mais importante, é para o meu avô. "para o meu pai, vivo em mim". ontem notei que meu pai é mesmo o que vive do meu avô. eu escrevo sobre isso hoje, mas não aqui. ainda não é hora.].
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