terça-feira, 28 de junho de 2011

as máximas desta 3a feira

escusado dizer que gosto de pessoas sem pudores imbecis.
são raras nas nossas línguas.

cazuza queria ser reconhecido pelo futuro enquanto poeta.
por mim o é.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

e la nave va

se exemplifique à vontade, meu bem. diga 
as coisas mais vãs que puder, fale-me até do mal
que faz por você mesmo

o mal que sobrevive. - - - -  eu às vezes acho que as pessoas me procuram pra atravessar certas coisas. como se eu pudesse pegar alguém pela partitura da camisa e dizer 'olha, tua vida, veja lá o que você faz.' - - - - as pessoas reconhecem nisso certa generosidade da minha parte, me agradecem. acho que cada um tem o rinoceronte que é. eu às vezes acho que

                                     no fundo elas vão descobrir um dia alguma coisa mesmo que nem mesma sei o que é, 
                                     mas é ao meu respeito e tem haver com me darem tanto as coisas
                                     no sentido de que eu poderia estar matando, mas vou, no máximo
                                     escrever uma dúzia e meia de romances, quando chegar aos quarenta.

enquanto isso não acontece vou somente me apaixonando toda vez que viro a esquina.

                                    e espero, eu também, arrancar de mãos dadas o mal do mundo, pelos olhos da raiz.

part time

tão difícil, a melhor coisa, escrever.
tanto tanto pra um, dois ou três, ou nenhum.

acho que tenho sonhado
com hotéis. acordo e minha mãe me escreveu
dizendo que percebeu que não sente mais falta
mas saudade.

e eu acho que inverti tudo, comecei pela melhor parte
(segundo mamãe, as saudades). eu nem
análise faço mais pra saber de nada.

mas levanto no meio da tarde e vou ler o poema
de carlos drummond de andrade
"com o pensamento em ana cristina"
por muito tempo desconfiei que ausência é falta.

penso que o Atlântico talvez seja mesmo
uma forma de suicídio. renomado
imortal. ou será que os oceanos terão
um dia, fim? será que enfim a morte é
onde as coisas terminam?

digo pra um amigo que os funerais são uma parede
com travo de desespero, ou cansaço. pra outro
peço que me escreva, encarnecidamente, porque
ouço a voz dele o dia inteiro. mas ouço em silêncio
por isso não me aterrorizo com pouco.

inclusive só me aterrorizo com o tempo 
em que eu pensava, recorrentemente, em suicídio.
mas o oceano, não. o oceano me dá as duas faces.

já contei que foi só vindo viver aqui que virei brasileira?
gosto muito de errar em certos privilégios. é como uma espécie de
dizer, portuguesamente, gosto muito de gozar em certos
privilégios. fica dito assim: é verdade, os brasileiros somos mesmo
qualquer coisa. o que reconhece a identidade posterior é o problema?

digo: a identidade está já traçada, é a identificação completa entre os pólos dela
o equívoco? mas aqui já acabou o poema, e começou a dissertação.

(acho importante separá-las.
inclusive, se eu pudesse, separava tudo no mundo.
aprendia a ser virginiana. tenho sempre alguns ao meu lado. os vejo
muito, desde a infância. eu mesma aprendi certos detalhes que não me confundem mais).

por exemplo, só.

mâno

meu deus, acho que do céu deste país quando chove cai poeta


SEGUNDO BALCÃO DOS BOMBEIROS


Neste tempo eu já lera as Brontë mas
como era um adolescente retardado
passava a noite em atrozes dilemas
que mais vale: amar, ser doutrem amado?


ainda não descobrira o simples disto
nem o essencial disto que é tão claro
se tudo no amor vem do imprevisto
deitar regras ao jogo pode sair caro

por isso eu amo e sou ou não benquisto
depende do instante bem ou mal azado
amor tem alegria, tem enfado
o happy end é coisa dos cinemas

#

APANHADOR DE PIRILAMPOS

A poluição dos escapes
os herbicidas
foram-vos empurrando
para fora
do Pinheiro Manso

antiga minha luz
particular
em noites doces
procuro-vos
e nada encontro
senão lixo
entre as folhas

fazeis-me
tanta falta
neste mundo escuro

#

A NAMORADINHA DE ORGANDI

Como na dança ritual dos patos colhereiros se te amei
foi a cem por cento da minha capacidade metafórica
mas copiado de livros onde o herói sempre enviuvava

cruzei imensas vezes sob a tua varanda com glicínias
pensando numa cena infeliz à moda do Harold

eu sonhava contigo?
                             eu assoava-me ao pijama!



[Fernando Assis Pacheco, do "Variações em Sousa".]

domingo, 26 de junho de 2011

um todo todo retorcido

e os pedaços de poema que se encontram, uns aos outros, um ano depois?

minhas frases cardíacas

ai ai - vida tão inevitável, viu.

sábado, 25 de junho de 2011

arbitrário

pensei ontem que quem não entende herberto helder não percebeu (ainda) como um poema pode ser um van gogh. - - -

- - - calor de silêncio rumoroso, leva-me de volta ao prazer do em si. leva-me ao, ao não interdito. - - -

quero tantas vezes me perder, fragmentar, cegar, pra ver o que está mais ausente no precário que sinto, arrancado então, feito novo, feito explícito, a pessoa aqui vive sempre do que acabou de perceber, e é sempre um lugar que leva a outro, não há um pavimento que não encaixe em outro nos meus sonhos, um lugar que sempre leva a outro, e eu mentindo ao escrever sobre abismos, nunca me faltam os pés, até quando tento, tanto que tento e depois fico, sofro, de tudo despedaçado pedaço por pedaço nada me dá fôlego. e meus pés sempre onde estão. 

suficiente pra perceber que há um contínuo entre todas as coisas e que silêncio não quer dizer, silêncio não quer dizer. diz, como as palavras, diz, enquanto comes a comunicação com silêncio, diz com as tuas palavras aquilo que diz - não o esquecimento, nem a continuidade, mas uma mistura puramente poluída entre uma coisa e outra - o direito ao erro, não, o valor do erro, o peso que as coisas têm, qual é? quem o mede,  aquele inventa? sabes como limpar uns dedos sujos, sabes como se fala com deus? e com os loucos, você sabe falar?, 

eu sei comer cerejas e saber que não são dele.
quando estão na minha boca.

sexta-feira, 24 de junho de 2011

viva qualquer coisa!

quinze amigos casando nos próximos meses e o Tejo que amanheceu como um espelho.
daqui eu nunca tinha visto assim.

meu horóscopo falando há dias pra eu fazer aventuras, considerar depois.
e eu tentando calcular pra onde é que eu poderia enlouquecer nessa tarde

para onde seria possível reconhecer

céu de estrelas sem destino
de beleza sem razão


fogo fogo de artifício
quero ser sempre menino



das músicas da minha vida. mesmo.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

pra juntar com o debaixo

Este trapo (que estou)
talvez queira dizer
fale num tom mais baixo
                 (with the dead leaves).

quarta-feira, 22 de junho de 2011

de repente meu corpo fica domado como quem chorou por um largo
tempo um traço no peito feito um temporal, mesmo, só que feito à caneta hidrocolor
preto, sem raios, trovões nem dispersos, mas cinzas nos pés, um amontoado.

naquele tempo - que eu gosto de - eu gosto dele - de falar do presente como se já fosse passado - gostava de ir andando até a rua augusta e quando virava pela vitória nela, o sol.

há duas augustas. um dia vou escrever sobre elas, não sei se sobrepostas ou paralelas.

mas eu vou pela rua augusta como quem carregasse um escondido por dentro que fizesse do sol na sombra desconfiança, no fundo, de ser um amor, um amor de sombra meu, de ser um amor infértil.

prazer

ai semântica dos e-mails
ai o ruído dos miradouros
o verão europeu. ele passa na rua achando que vem um carro que não vem.

carro assombração. às vezes eu acho que essa cidade diz tantas coisas que se eu tivesse crescido aqui, enlouquecia. é muita camada. uma sensação de parada. tudo mentira.

lembro que em são paulo a luz de freio dos carros me tonteava. o barulho de todas elas na mesma hora, todos os freios juntos apertam pequenos fiu-fiu, sem sedução. a vida tinha uma claustrofobia assustadora, quando me mudei pra são paulo.

muito tempo hoje ainda eu temo a claustrofobia das cidades.

acendo este incenso pra que a vida recomece desde a sala de jantar
pra que a vida recomece desde a sala de jantar até o universo.

ai que vontade de dizer o já dito, só que torná-lo explícito.
ai que vontade de queimar a mão.

any day, now. any day, now.

let's swim

sim. tem algo de vertical, necessariamente, no escrever. mergulho, mesmo. quem vê o drama quando se precipita sem máscara. muito difícil tem sido, cada vez mais, escrever como uma coragem  da inocência que talvez a idade vá transformando em outra coisa (talvez o Quiroga tenha mesmo razão, e a opção da calma amorosa já tenha tomado conta das minhas escolhas, em encruzilhada ultrapassada das escolhas de paixão. será?).

quanto a escrever, uma dificuldade de perceber pra onde é vertical no redemoinho.  entrar de lado pela malícia. é mesmo perigoso, uns lados de onde ir. delírio, abismo, vertigem, ou ao ver o redomoinho  por dentro, o que se pega com a mão e coloca como objeto, aqui, bem de frente, pra olhar? tem muita coisa por aqui, girando.

girei a mesa no quarto: agora estão apoio e cadeira inclinados pelo piso, meu lado esquerdo mais alto do que o direito - não deve ser bom para a coluna; perdi mais da metade da área livre do quarto; correrei todas as noites o risco de bater a cabeça se me levantar errado da cama; mas assim daqui eu vejo o Tejo e é tão bonito que chego a ficar constrangida

(como é só pra mim).

resolvo fazer um jantarzinho hoje à noite e convido 15 pessoas.

tenho sonhado todas as noites mas de manhã só me lembro de um pedaço. a cena que lembro de hoje é que me convidavam pra jantar num lugar que em São Paulo eu iria fácil, mas era aqui em Lisboa e eu me sentia constrangida pela riqueza. sabia que não tinha dinheiro pra pagar. e também duvidava um pouco do prazer daquela companhia.

desejo transformado em auto-satisfação / auto-satisfação transformada em desejo

(ai os perigos de uma concordância).

consegui todos os meios pra falar com ele, mas estou séria (velha?) e não me articulei. acordo que não acredito na desculpa muito trabalho que me usei ontem. simbora com o medo, mas, no mais, eu te adoro, madureza.

se calhar saudades daquele tempo ain't no mountain high enough


viva o verão!

terça-feira, 21 de junho de 2011

palabras para mi queridos

lenha, se eu sou - é porque vocês me tiram da lama.

domingo, 19 de junho de 2011

ainda não entendi porquê

de patins, enormes, andando por uma cidade que tinha todos os tipos de pavimentos possíveis, muito raramente propícios aos patins, mas eu resisti, sem cair, e quando deslizava tomava toda o impulso possível, então quando chegava ao lugar errado enchia as rodas de lama, mas elas não pareciam se importar, e minhas pernas eram capazes de tudo - tudo alcançar. de repente estou num aeroporto, é perfeito pra deslizar. de repente estou num banheiro de ginásio, tipo como se chegasse a hora do banho, e três mulheres me dizem que o roberto (que era o chefe de bedéis da escola em que estudei) tinha mandado dizer que patins eram proibidos ali e em toda parte e que deviam ser - os meus - confiscados. então me senti sem pés.

sábado, 18 de junho de 2011

já de saída minha estrada entortou

"Provavelmente você terá medo de muitas coisas. Por exemplo, do futuro. Mas quando ele chegar vai ser um presente e é melhor nem pensar agora. Aristóteles fala de um homem que se matou porque tinha medo de morrer. E, você sabe, estamos sempre por aqui, por enquanto, enquanto dá pra estar por aqui. Não se preocupe, as coisas se ajeitam e o essencial é o equilíbrio." p.

the times they are a-changin'

Chega!
Meus olhos brasileiros se fecham saudosos.
Minha boca procura a "Canção do Exílio".
Como era mesmo a "Canção do Exílio"?
Eu tão esquecido da minha terra...
Ai terra que tem palmeiras
onde canta o sabiá!

Drummond

sexta-feira, 17 de junho de 2011

primeiro alô

imprimo meus "poemas do destino do mar" pela primeira vez para organizá-los em ordem,
mas o que eu ia dizer é que imprimo meus poemas no verso de umas cópias mal feitas de um texto do Adorno -
e me sinto tão longe da Universidade de São Paulo. amém.

axé

hoje li no quadro de luz de uma rua (possível) uma possível hipótese de epígrafe pra um sub-capítulo da minha dissertação e eu escrevo aqui para registrar, já que não tenho  - ainda - nem capítulos, nem subcapítulos, nem nada que use hífens. é como isso:

"o tempo só estrangula quem não ama".

será para iniciar o dizer sobre o Octavio Paz.

S2 hoje mamãe me devolveu e não estou mais então pensei

tirem o futuro da frente de um capricorniano e vocês verão alguém triste.

de abril, à máquina

o que é mais importante em um texto? o do que ele fala? ou o como? ou a sensação que ele nos propõe? será uma proposta ou uma causa? irreversível? - acho que há uma radicalidade diferente no artaud que não consigo aproximá-lo com clareza (ou força) do le clézio. embora possam os dois ser - - - a minha fala aproveita a noção de errância nela mesma, mas gostaria de lhes contar que isto não é o meu comum. tento estar mercurialmente organizada em setores, mas se a escrita da poesia já me mostrou que soltando-me ao labiríntico acabo justamente por este meio encontrar o estruturado, ao final desta errância se calhar teremos a impressão de um claro caminho. sobretudo uma estrada antes de colocarem nela os sinais. este modo de falar é um jeito de conseguir me desarmar ao ponto de que vocês me reconheçam nua. mas não estou nua, então lembrem-se que posso estar fingindo. mas é sério, isto aqui me desestabilizou. e diferentemente do que percebo que acontece, não é uma des-estabilização que o texto em si tenha me causado, mas parte da reflexão sobre ele. 

em primeiro lugar,

- sim, um texto linear e bonito, pra todos nós sentirmos prazer juntos - .

quinta-feira, 16 de junho de 2011

se o destino existe

é fascista.
aterrorizado que ele é com o mal, - isso sempre me foi um indício da bondade do caráter irrevogável - mas eu não poderia aceitar temer para sempre o escuro - eu tive que ir. - tive que vir, na verdade - pra poder entender que o fundo de todas as traições que te fizeram foram reais. - sempre considerei a bondade como opção que você, vocês me deram, a maior generosidade dos seus atos sempre generosos, - não sei se vocês seriam capazes de não me entender, não sei. isso nunca existiu entre nós. 

e hoje que minha nova amiga me fez concluir que existem mesmo memórias sem imagens nem palavras nem nenhum indício que as apresente enquanto memórias - instintos? - pensei tanto pra onde mesmo não importa. pra onde não importa, mesmo. eu só queria que vocês entendessem que eu tô muito perto de vocês. dói tanto pra cá quanto praí, eu sei. não tenho muito mais o que dizer, acho que, se calhar, também existem expressões que não são possíveis de dizer, nem de ver, - e isto tem também haver com destino. 

dia desses de manhã não sei quem foi que disse antes "é claro que eu acredito em destino. onde já se viu um poeta que não acreditasse?". - e eu queria que vocês soubessem que o motivo pelo qual eu estou aqui não tem nada haver com vocês, antes o contrário, embora eu não saiba qual é e esteja quase me arrancando os olhos pra descobrir porque estou viva. mas amo, amo vocês mais do que qualquer outro amor que eu já tenha tido. e sei que vocês entendem que isso não é absurdo.

o homem do ano

"Quanto aos livros, são os que mais me dão cabo da cabeça. Não deixo uma palavra com o seu sentido, nem sequer com a sua forma. 
Agarro-a e, após alguns esforços, arranco-lhe a raiz e desvio-a definitivamente da manada do autor.
Num capítulo há logo milhares de frases, e lá tenho eu que sabotar todas. Isso é-me necessário.
Às vezes, algumas palavras resistem como torres. Tenho que atacá-las várias vezes e, já bem lançado nas minhas devastações, subitamente, na esquina de uma idéia, revejo a torre. Por conseguinte, não a tinha suficientemente demolido. Tenho que voltar ao princípio e encontrar veneno para ela, e nisto passo tempos infinitos. 
E uma vez lido o livro inteiro, lamento-me, pois não percebi nada... naturalmente. Não consegui engordar nada. Continuo magro e seco. 
Eu pensava (não era?) que quando tivesse destruído tudo, encontraria o equilíbrio. Possivelmente. Mas o que isso demora, quanto demora!" 

Henri Michaux, do As minhas propriedades, - em tradução de José Carlos González.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Agora sou cavaleiro Laço firme e braço forte Num reino que não tem rei

de uma noite de eclipse pra outra noite sem eclipse
pensei que das coisas mais bonitas que eu já vi certamente essa foi uma delas. o eclipse por cima do Tejo.

no meio do eclipse estou indo pra cozinha pegar o lume pra acender um incenso e minha corrente com o cavalo arrebenta.

#

depurei uma trança que importa. confiar, tolerar, querer todas as imagens, as visões se clareando, todas as formas de representação da experiência são válidas. ao mesmo tempo, saber que nada funciona, que não há nenhum discurso que explique nada, nunca.

(interpretação é tudo beibe. apaga. esquece.)

mas decidir por uma coisa ou outra me parece estúpido. necessário mesmo viver na terrível maravilha da oscilação.

#

qual será aquela formulação de dúvida que quero fazer?

-

a revelação da Terra quando saiu de frente da lua foi que aos 35 anos, quando eu ganhar o Nobel, já sei o que fazer com o dinheiro. vou comprar uma passagem extra-terráquea, dessas que milionário pode ir ver o planeta de fora dele.

acho que é o único modo de dar conta da experiência humana, ganhar o Nobel, ver a Terra de fora dela, e morrer.

domingo, 12 de junho de 2011

vamos lá, catarse, minha prima,

pohãn
a arte de transformar diários em rituais que saem do luto
delicadeza do registrar, relato abençoado seja ao abrir-se
(nós entendemos ao depois as coisas, os homens)
é sempre um atravessar perigoso
não sei se alguém come o que escava ou delira.
mas quando eu
zinha da silva catarse
resolvo transformar meus diários em poemas
(diários de um ano e meio atrás, serão os poemas de um ano e meio atrás?)
reconheço que os poemas já estão prontos
e preciso, precisaria, de um outro corpo. pra salvaguardar.

eu, que tenho virado um princípio do cuidado descontrolado.

bem me quer mal me quer

senti três coisas essa noite em sonhos. não sei se estávamos todos juntos num mesmo ônibus.
mas meu amigo contava que estava apaixonado por um homem depois de muito amar as mulheres. tinha conhecido o cara numa suruba, estava siderado.
mas meu amante só ficava me olhando, sentado em outro banco.
sentado do meu lado estava o meu desejo, e íamos para o sul, um outro sítio.

sábado, 11 de junho de 2011

ó antónio

concedei-me a forma do erro.

sendo nós como a sardinha a voar por cima das águas

tenho medo de ser eu a noiva deste arraial. finalmente me encontraram e estou com o cabelo todo envolvido por cobras e louros de umas colinas antigas que há aqui na Europa. enquanto nos casamos toca morango do nordeste,

 se as notas da música não se sentem invadidas pela letra das canções?

isso eu já não sei. estou musicada pelas palavras que invento. toda vez que eu falo alguma coisa passa pela palavra um eletrochoque chamado esquecimento que depois a revigora fazendo

(percebi aqui o meu procedimento, ou que hoje estou mais rápida do que o meu computador - às vezes vou para o teclado da máquina de escrever quando isso acontece, pra que eu tenha que pensar mais devagar, e não tão lento quanto à mão. porque no teclado costuma dar tempo de escrever tudo. mas hoje não está dando.

há uma festa típica lá embaixo. amanhã teremos fotos dela pra vocês. acontece que o típico varia de esquina pra esquina. vi gente dançando techno de boteco dando passinhos pro lado feito uns gansos que procurando comida no meio da palha fizessem um ninho.)


fazendo, fazendo? fazendo palavra. mas seriam assim palavras novas ou renascidas ou quem sabe rejuvenescidas? tipo dizer "alfombra": "1    tapete espesso e muito macio, de cores e figuras diversas; alcatifa". - não este procedimento não me convence.

eu estou convencida por um homem chamado roland barthes. eu gostaria de contar que vez ou outra eu abro um livro deste homem que foi roland barthes e concordo com uma meia dúzia de coisas embora a agudeza às vezes me espete nos homens de Letras.

(sim, há homens de letras. é uma coisa impressionante, eles têm dois olhos, uma boca, um nariz com duas narinas, orelhas. contam-se perfeitamente nos homens de letras os 7 buracos da cabeça. há também um coração.


coração muitas vezes minado pelas Letras, seja no sentindo de serem, como vocês podem imaginar, uns ríspidos amedrontados e/ou uns sonhadores. eu mesma quando fui homem tive uma experiência como essa. mas depois que eu comecei a comer milho e a comer couve quase que diariamente os meus sonhos passaram, meu estômago parou de arder, eu me torntei feliz e escrevendo, às vezes na máquina de escrever, às vezes no computador, às vezes à mão. escrevendo é que vou ao arraial, às vezes tenho medo de ser a noiva, às vezes vou sair e encontrar a galera que é sábado à noite e eu gosto de discordar das festas, mas nem tanto.)
e às vezes me espeta no Roland Barthes, quando eu acho ele afinado demais com aquilo que é Roland Barthes. é bonito quando algo escapa do previsto, e com ele parece que só afina, afina, afina. será isso a técnica de si mesmo? técnica do escrever. era um viciado, é claro nos textos dele que ele era tão viciado, e olha que de vício é uma coisa que eu entendo (tipo sábado à noite, a maior festa na vizinhança, e eu aqui falando sobre Roland Barthes) (sem querer parecer que eu faço isso porque me obrigam, justamente não é isso, justamente eu faço obrigada, me mandei sentar aqui e escrever antes de sair qualquer coisa que transmontasse) (pra voltar pro convívio humano.

escrever, essa separação para depois encontrar. mas isso é a poesia. gente. a poesia não é uma coisa que assusta vocês?



estou muito certa de uma coisa que me perdeu. agora tentei dizê-la, mas lembrei novamente. certas coisas só se pode falar do lugar do esquecimento. adiós, vou ser a noiva do arraial pra nunca mais voltar.

11 de junho

fiz bandeirinhas na varanda, de festa dos santos, de santos. ainda não percebi como se fala isso em português, exatamente. inventei uma

LIÇÃO

"santos":
os homens santos,
entre os homens há os santos.

os santos são uma espécie de heróis mais improváveis.

creio que todos sofreram e com isto aprenderam a, de algum jeito, agirem com mais amplitude e bem.

os santos são três: critério, tolerância e desejo.


no próximo capítulo vamos falar de estrelas.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

maledetta primavera





maledetta primavera
che importa se
per innamorarsi basta un'ora
che fretta c'era
maledetta primavera

quinta-feira, 9 de junho de 2011

teu sonho determina:

onde começa o real e termina o Nilo?

papai é contra o romantismo

e eu  agora não sei mais chorar
então escrevo.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

da saudade e do caminho

no eléctrico indo pra Graça um pedaço de ombro da senhora que queria descer na minha frente me lembrou minha mãe, era um cheiro completo dela, meia lágrima enquanto tocava bethania nos fones, eu pensei "estou indo no supermercado" - é que eu já sei me cuidar? - e hoje de manhã na cama não queria levantar de jeito algum - disse três vezes "não vou me render à essa depressãozinha ridícula" - esfriou aqui, sabe? o frio tem mesmo a compartimentação dos órgãos que imprime.

parece que a minha escrita aqui não tem esforço. é sempre um ir-se. é um esforço dessa escuta, é tudo o que eu poderia argumentar. ontem pensei que dos dois livros que estou fazendo um é absolutamente coerente e completamente construtivo. o eixo entre os dois é a duração. o outro é uma espécie de escrita do desaparecimento. "o outro" é o mais difícil de me apaixonar por ele ao ponto de fazê-lo, verdadeiramente. leva o título desse blogue e tem, justamente, essa escrita que é um lançar-se só para o que aparece. o "mesmo", não. "poemas do destino do mar" é calculado, rigoroso.

não sei, mas algo me diz que um dia vou saber porque eles têm que estar juntos.


o que eu tenho pensado muito esses dias que ando relendo as coisas que escrevia no um samba sobre o movimento é tanto que o bonito é uma perseguição que me persegue; e como eu já sei de tudo, mesmo antes de acontecer, parece que já está tudo aqui apontado, feito sinalizações memso de pra onde vou indo. mas o que me apavorou nisso não foi isso. porque isso sempre me acontece ao me reler nesses diários públicos. o que eu tenho pensado é: e se eu me ouvir absolutamente? se eu souber agora me escutar e me ouvir dizendo pra onde eu devo ir? - na verdade eu já faço isso mas vou dizendo a mim mesma "menos", "pouco". eu não acredito em mim mesma até ser abusivo.

uma das questões do meu tempo de agora é o que vou fazer ao acabar essa dissertação. na verdade o que eu vou fazer significaria "em que cidade eu vou viver?" porque, aliás, quando eu vim pra Lisboa foi pensando mais na cidade do que em qualquer outra coisa (inclusive é maravilhoso como eu e bernardo tivemos e temos sorte, de morar não só na casa mais gira de Lisboa como de trocar de mestrado como de nos conhecermos um ao outro) mas daí, se me percebo fazendo essa questão (e psicanálise em público), já tem algo de auto-audição nisso, no questionamento ser uma inquietude por si só já respondida

(ai os primórdios da auto-audição)

a inquietude é o quê? às vezes me parece que uma espécie de energia que vai se confabulando, confabulando. até que gera dois três quatro CLARÕES todos enovelados. mas desse novelo rola um gato descendo uma escada triunfal, confiante! vivo. é. vivo muito vivo. tempos poucos viram gatos tão gatos nas minhas retinas, é isso que eu gostaria de dizer num futuro bem próximo.

(porque insatisfação, disso não gosto mesmo. nem do amontoado de órgãos que ontem eu estava me sentindo)


meu pai tem três imagens em cima da mesa





terça-feira, 7 de junho de 2011

último adeus III

sim, eu sei. eu vou dando rinocerontes sorridentes por aí. 
aquele que me quiser vai ter que abrir um zoológico pra me deixar livre dentro do gramadinho.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Nenhuma estação é lenta quando te acrescentas na desordem,

no mais, a sorte continua me atingindo, e as repetições têm me dado chances de fazer sempre de outro modo, ou do mesmo, só que mais ao lado.
ou um cavalo que me dessem pra guiar e estivesse cego com o coração disparado.

#

não consigo achar nem no meu antigo blogue qual foi o dia, a última vez que fui na análise. mas nunca deixei de escutar. alguém me disse que começava depois de largar. a gente se inventa, já queria baudelaire. - - - acordei e li um texo inteiro numa só pegada de viés inteiro inteiro e agora já é hora de dormir - lembrei que fui lendo por partes até conseguir ler inteiro. decorei umas partes quando lavava louça. amanhã vai ser dia de acordar e ler outro texto. esse ano estou fazendo uma coisa que nunca fiz, uma dissertação. é tipo um ritual de passagem, pelo que dizem. levarei flores para cima da mesa. comerei as flores com todos os presentes, antes que elas murchem.

#
coisinha insignificante essa experiência. é tudo o que penso, quando olho a relva (que grama fez um gajo rir muito). daí tenho aquele desejo de aniquilação que é sempre uma farsa que a gente se encena quando não tem mais ternura pra fazer. ou O DESEJO DE ANIQUILAÇÃO TCHAAAAAAARANS abre a cortina, você pensa que te acontece o quê?

vão esquecer de mim em outra vida, por favor. na minha quero que se lembrem de uma meia dúzia de coisas que dizem respeito só a vocês mesmo. nem me adianta vir tentar falar como se tivesse me esquecido que eu ponho DETALHES pra tocar.

#

e aquela puta do herberto helder escrevendo poemas de amor, de sexo, de paixão, ele descreve o pulso côncavo de uma mulher e como se falasse do rio - como esse verso que é o título dessa postagem - que só queria marcar mesmo que hoje foi um dia de correspondência importante.

domingo, 5 de junho de 2011

cansei de e-mails, sensações, literatura
astrologias, ninharias, rupturas
estou querendo querer (lembrei-me agora da época em que eu perguntava

Por que eu não sei o que eu quero querer? e o I Ching me disse algo muito importante que já não me lembro mais)

que eu faço de tudo
limpeza de fossas nasais
varreria até se pudesse quintais
sou uma baleia, copo de leite, um rabino
e um litro de sangue dentro de um cão
que abana o rabo se coça e sofre
de ninguém lhe esfregar as orelhas
duas ou três palavras amigas
domingo é o que não pode ser
pra sempre, meu coração.

dentição incompleta

a língua é um território em movimento dentro da boca ainda antes da boca em movimento a língua é um território em movimento dentro da boca ainda depois da boca a língua é um território em movimento fora da boca ainda

sábado, 4 de junho de 2011

se você pensa que cachaça é água

estou que não acredito. um pedaço de mim apaixonadíssima. outro pedaço completamente esquecida, retinta no esfriada. as duas coisas estão que não se anulam, nem me confundem, estão sobrepostas, trançadas, multiplicadas em possibilidades como se fatiassem o universo de bolos e eu tivesse-os todos como possíveis. vou comer até me dar dor de barriga. e vou parar, vou respirar, vou ficar sem pra ficar leve. vou viver até não ter fim o bololô que vou metendo cada vez mais densidade possível. densidade de encontros. me perguntaram assim (se perguntassem) "o que você faz da vida?" "eu? faço amigos." "e o que você faz com eles?", "trabalho, eu trabalho". possível, me perguntaram se eu achava possível viver certas coisas antes dos 30 e como sempre eu respondi que os meus possíveis são distintos dos possíveis de toda gente, mas isso não faz de mim (nem dos meus possíveis) uma pessoa ligeiramente especial, mas tão somente uma pessoa atenta às possibilidades, minhas e dos outros, de variarmos e sermos, inclusivamente, impossíveis.

confidência e imaginação

parece que só agora eu com os 27 anos faço uma cisão (na qual sempre me abismo) entre o que penso e a madeira que cobre o meu chão. dizem os especialistas que isso deveria ter me acontecido por volta dos 11 anos de idade. mas e a escolha? não será ela uma alucinação?

sei que agora gosto de não dizer, de perceber e de guardar, ou de simplesmente (e daí a aparição) notar que não estão vendo o que eu estou pensando, embora possam sentir ou saber, minha palavra não precisa (eu sempre tento) validar. e também perceber o contrário: estou tentando me comunicar, alguém me entende do jeito que eu gostaria? é sempre uma falta o que falta dizer, uma aproximação do que o outro pode entender. 
nessas horas o invisível está cheio de comunicação. acho que outra coisa que me acontecia é que eu só acreditava na palavra. hoje ela tem um lugar de potência e força que faz, justamente, desse um lugar qualquer, muito responsável lugar qualquer. 

e a gente não evolui, nem melhora. mas a gente amadurece. mas imagino que em dois segundos todo amadurecimento pode vir abaixo, com tempestades do nunca-visto ou do muito-conhecido. talvez as tempestades sejam sempre uma mistura de nunca-visto com muito-conhecido. o horror. o horror. 
lá vou eu. que quem acordou em mim hoje foi mrs. dalloway. 

besotes pra quem (não) me entendeu.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

tenho um novo amigo

A MENSAGEM DO TEU

A mensagem do teu lábio superior
salta bip o parapeito que nos separa
e habita urgentemente nos meus olhos
e repetidamente e urgentemente convoca os meus olhos
para a saudade publicada na tua cara
com slogans de néon interior

Sei que sabes uma palavra indecente
e que tens vergonha dela como se essa palavra fosse
a tua roupa de dentro

Sei o que pensas sei o que fazes
sei coisas que tu mesma não sabes
Sabes, por exemplo, que estás noiva? E que o malandrim
afinal de contas é sargento de infantaria?
Mas deixa lá homens é o que há mais
E (sabes?) os oficiais

O morse lábio bib bip noticia:
ATENÇÃO ATENÇÃO ESTOU QUASE SOZINHA
E sei pormenores da tua respiração
concretos, fotografias


#


O QUE ME VALE

O que me vale aos fins de semana
é o teu amor provinciano e bom
para ele compro bombons
para ele compro bananas
para o teu amor teu amon
tu tankamon meu amor
para o teu amor tu te flamas
tu te frutti tu te inflmas
oh o teu amor não tem com
plicações viva aragon
morram as repartições

[Manuel António Pina]
 

Free Blog Counter